terça-feira, 6 de abril de 2010

Ganga Zumba


Ganga Zumba, de Cacá Diegues (posso dizer Cacá ou devo dizer Carlos Diegues?), começa com a morte da mãe do Ganga, ou Antônio, no tronco. O que acontece é que antes de ir pro tronco, sabendo que ia bater as botas, ela chama outro escravo, Anoroba, e dá pra ele o colar dos Ganga, pra provar que o filho dela é filho de Zambi, e príncipe de Palmares. Então o Anoroba dá um jeito de avisar lá em Palmares onde o príncipe está - em boa hora, por que o Zambi tinha acabado de perder o herdeiro dele, morto na guerra - e um guia (o moço da foto do cartaz) vem buscar ele na fazenda.
Bom, só aí leva uma hora.

Eu estava meio seca de vontade de ver esse filme, achando que ia rolar umas cenas de guerra, de revolta escrava, ou de Palmares, ou alguma coisa, mas na verdade eles nem chegam a alcançar Palmares. O filme acaba antes.

Esse filme é da fase que o Cacá Diegues trabalhava com Cinema Novo, antes de "cuspir no prato em que se fez", como disse o Glauber, e se dedicar ao cinema comercial. (No que eu, pessoalmente, não vejo mal nenhum, adorei Xica da Silva.) Uma vantagem que filme do Cacá no Cinema Novo tem sobre a fase comercial é que tem bem menos sexo. De resto o filme é meio lento, tem umas imagens que ficam vários segundos na tela e você fica meio sem saber porque - o Cacá Diegues não é exatamente o Bertolucci, saca? Tem também umas cenas sobrando, sem razão de ser, e apesar disso a história não está perfeitamente narrada, eu e meu namorado ficamos confusos várias vezes, se perguntando "você entendeu o que aconteceu? porque ele falou isso pra ela? quem é esse cara? de onde veio esse outro cara?" e tecéteras.

Então a economia do "texto" não agradou a mim. Grande novidade. Mas não fica aí, no todo o filme é bacana. A história vale a pena ser vista - desde que você não se deixe levar pela esperança de ver batalhas (o Cacá não é muito bom em conduzir cenas de luta, mesmo dispondo de capoeiras finos) ou ser transportado pra dentro do universo de Palmares (eu sei que você tem curiosidade de "ver" esse lugar lendário tanto quanto eu). Mas enfim, a gente aprende uma porção de coisa sobre a realeza palmarense que não se aprende na escola nem em livro do Darcy Ribeiro. E tem o elenco. E tem a música.

Nara Leão.

Sacou?

Uma tristeza que a cópia que eu descolei estivesse tão acabadinha. Mas imagina, o moço faz o filme 50 anos atrás, com a tecnologia que eles tinham lá, aí ele fica apodrecendo no rolo um tempo, aí alguém troca de suporte, passa na televisão, alguém captura essa imagem (tem o selinho do Canal Brasil no canto superior esquerdo), tranforma em data de computador, eu baixo aqui, gravo no DVD em alta velocidade, aí, meu, não tem cópia que aguente, né? Tinha chiado, diversas vezes a tela ficou muito clara ou muito escura (filme P&B) e não dava pra ver nada. Uma grande tristeza mesmo. Acho que eu seria menos chata com o filme se tivesse podido ver ele em todo seu esplendor. Três vivas pro esforço de recuperação dos filmes antigos da Cinemateca Brasileira.

Enfim, flertei um pouco com Cacá Diegues, mas, no que toca o Cinema Novo, ainda torço mais pro time do Joaquim Pedro, até agora.


Ganga Zumba (1964)
Drama, 92 min.
Direção: Cacá Diegues
Roteiro: Cacá Diegues, Leopoldo Serran e Rubem Rocha Filho
Atores: Antônio Pitanga, Léa Garcia, Elizer Gomes, Luiza Maranhão, Jorge Coutinho

DOWNLOAD RMBV

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