quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Gláuber Rocha no Programa Abertura

 
Achei! Achei! Aquele vídeo de que eu falei no primeiro post, que foi o Goiano que levou lá em casa, que o guarde Deus, com o Glauber Rocha botando a boca no trombone.
Bom, achei uns pedaços...

Trata-se do Programa Abertura da TV Tupi, de que o Glauber participava. Deve ter durado algum tempo, porque em um dos trechos ele fala do "presidente Geisel" e em outro do "presidente Figueiredo", i.e. fins dos anos 70, começo dos 80. Um dos problemas dessa coisa de internet e youtube é que a informação tá sim toda lá, mas completamente desorganizada. Não tem nem mesmo as datas dos trechos. Vou fazer uma campanha pro youtube contratar um time de bibliotecários.

Não achei a melhor parte, a que ele fica mais nervoso e grita muito, cita Euclides da Cunha e acaba com todo mundo. Mas aqui tem uma amostra. Ele acaba com a pseudointelectualidade carioca, com o Cacá Diegues, com o Franco Zefirelli, com a Embrafilmes e com o cinema americano. E olha que aqui só tem uns dez minutos.

Aí tem. Os links, umas citações e minhas observações também, porque a gente tem que assumir a própria capacidade crítica em temas de cultura brasileira. :-)
Se ele pode, eu também já me joguei.

"ENTREVISTA" COM SEVERINO


(O pobre Severino mal falou, só ficou lá enfeitando a cena do Glauber. Eu vi em outros trechos que o Severino tá sempre lá, e nunca fala, o Glauber menciona que a galera reclama que ele nunca fala. Parece mais que ele é assim uma espécie de Zina do quadro do Glauber no Abertura. Eu não achei essa cena, mas da primeira vez que vi esse vídeo lembro distintamente do Glauber dizendo: "O sertanejo é antes de tudo um forte, não é como os brancos neurastênicos do litoral", apontando o Severino. Lembro disso porque até ano passado eu achava que essa frase era dele mesmo. Não é. É do Euclides da Cunha. E o Severino só entrou de gaiato na cultura brasileira.)

"Franco Zeffireli, que é um aventureiro, que veio aqui e recebeu bilhões pra montar a La Traviatta (...) humilhando, inclusive, a burguesia pseudo-culta do Rio de Janeiro, que engoliu gato por lebre, porque o Zefirelli é um diretor de segunda classe."

"A gente tem realmente de assumir a sua própria proporção dentro do espaço cultural."

Obs.: Não acho que o Glauber tenha lido "intensamente" o Zé de Alencar como ele sugere aos brasileiros analfabetos que façam, porque, se tivesse lido, teria percebido que os romances são todos variações dos mesmos dois ou três temas básicos. Mas, sim, o ensino de Português no Brasil é uma catástrofe e se deveria reformar o ensino de literatura no pais, mas com menos Zé de Alencar e mais Lúcio Cardoso.

SOBRE CINEMA


"O cinema brasileiro não tem uma estrutura industrial, o cinema brasileiro é realizado por amadores ou por profissionais improvisados, por empresários que pegam dinheiro em banco com juros, de forma que é uma coisa artesanal."

"O cinema estrangeiro, que já chega aqui pago, sobretudo os filmes americanos, esse cinema estrangeiro quer o baixo preço [das entradas], porque o que ele busca na verdade é a penetração cultural, é o domínio ideológico do mercado, do público brasileiro. (...) Porque inclusive a vanguarda da intelectualidade brasileira é colonizada."

"O movimento do Cinema Novo, que era um movimento internacionalmente importante nos anos 60 e 70 e que criou o cinema brasileiro, esse movimento do Cinema Novo foi destruído por vários porretes (...) importantes cineastas brasileiros que se entregam à pornochanchada ou ao subcinema comercial (...) e falam mal do cinema novo, prato no qual comeram e se fizeram"

Detalhe: o Glauber está falando sobre um fundo com fotos da Zezé Motta e da Elke Maravilha.
Conclusão 1: ele está falando diretamente do Cacá Diegues.
Conclusão 2: parece que o filme de que eu mais gostei até agora é classificado como subcinema comercial por ele. Ah... fazer o quê? Pelo menos não tem superherói nos meus subfilmes comerciais. E já estabelecemos que o premiadíssimo Pagador de promessas, mesmo não sendo subcinema comercial, foi feito pra impressionar a gringaiada nas Oropa.

"Dediquei 20 anos da minha vida ao cinema brasileiro, sou um dos principais artistas da Embrafilmes, realizei alguns filmes brasileiros de repercussão internacional e me encontro no Brasil marginalizado."

"O cinema é a mais importante de todas as artes."


Se você for lá no youtube vai achar mais alguns trechos do Abertura com e sem o Glauber, mas eu acho que separei os dois mais interessantes.

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