domingo, 17 de outubro de 2010

Lição de amor



A trasitividade do verbo está relacionada à suficiência do seu significado. Assim, se eu digo "corro", "morreu", "nasci", esses verbos já comunicam todo o significado que eu desejava expressar, e por isso não precisam de complementação (os mal afamados objetos diretos ou indiretos). Se, ao contrário, eu digo "gosto", isso não expressa nada. É preciso que eu diga do que eu gosto. Eu gosto de cinema brasileiro, eu não gosto do PSDB. A mesma coisa para dizer "eu amo". Quem? O que? Para se amar é necessário um complemento.

Menos para Fraulein, em Lição de amor, filme de Eduardo Escorel baseado no romance Amar, verbo intrasitivo de Mário de Andrade. Fraulein ama. Até com advérbios: profundamente, corretamente, brevemente. Mas como os complementos são irrelevantes, Carlos, Plínio, Eduardo, é mesmo como se não existissem.

O trabalho de Fraulein é ensinar os meninos e meninas das boas famílias paulistanas a falar alemão e tocar piano. E aos meninos, exclusivamente, a amar, de forma a mantê-los longe dos prostíbulos, protegidos da sífilis e da morfina, para que possam se casar bem e serem felizes. A tragédia é a impossibilidade da felicidade da própria Fraulein. Isso depende do fim da guerra, de ela ter dinheiro suficiente pra voltar pra Alemanha (mais um ou dois trabalhos...), de lá encontrar um marido etc.

Assisti Lição de amor por indicação de Grande Otelo, naquela entrevista para o Roda Viva de 1987 de que eu falei num post anterior. Acho que posso entender porque o Otelo gostou do filme. É um filme extremamente competente. Não tem rasgos de genialidade glauberiana (controversa), mas também não tem nada de medíocre (Globo Filmes), de pitoresco (Zé Mojica) ou de brasilianismo exótico (Anselmo Duarte). É simplesmente cinema, e bom cinema. O festival de Gramado concedeu três Kikitos, pra melhores diretor, atriz e trilha sonora. E, com história do Mário de Andrade, bom, que mais recomendação você quer pra ver esse filme?


Lição de amor (1975)
Drama, 80 min.
Direção: Eduardo Escorel
Roteiro: Eduardo Coutinho e Eduardo Escorel, baseado em livro de Mário de Andrade
Atores: Lílian Lemmertz, Rogério Fróes, Irene Ravache, Marcos Taquechel



Obs: o som está mais adiantado que o vídeo. Para consertar, li em outro site que dá pra fazer no Windows Media Player Classic, aumentando o ms para + 3500 (o que quer que isso signifique).


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vereda tropical


Em 1977, quatro diretores brasileiros uniram-se para criar o filme Contos Eróticos, baseados em quatro histórias premiadas pela revista Status. Eduardo Escorel, Roberto Santos e Roberto Palmari fizeram amarradões os filmes deles, mas o Joaquim Pedro tinha que ser diferentão. Ele filmou cenas de sexo tão explícito, tão chocantes por seu desvio, que o filme foi censurado, e ninguém foi pra tela até dois anos depois.

Vereda tropical é o nome do curta que o Quinzinho fez pro filme. Ele conta da história de uma cara que curte... melancias. Contei essa história pra um amigo meu e ele perguntou "E aí?" Como assim, e aí? E aí ele compra outra, uai! Mas cada melancia é diferente da outra...

Como toda história de amor tem um ponto triste, a tristeza deste nosso amigo é a entressafra. Pobrezinho tem que comprar outra frutas, alternativas, no inverno, que as melancias tão fora do mercado.

Verdade é que Joaquim Pedro, até na hora de escrachar, mostra um senhor de um bom gosto. Chocante até. Fiquei mal, fiquei mal mesmo, meio passada, com aquelas cenas de sexo interreinos explícito. E tem aquela piada de internet, que eles põe um gráfico pizza com a frequência das vezes que seus pais entram na sala quando você está vendo um filme. Uma fatiazinha de nada, a porcentagem da cena normal. Uma fatia mais entre 5% e 10%, alguém sendo assassinado, e o resto todo, cena de sexo explícito. Pois o figura me fica uns 10 minutos enrolando com a melancia na mão e, bem na hora que ele vai mandar ver, mamãe entra na sala? Com que cara eu fico? Como eu me explico? "Sabe o que é, mãe, é que eu estou fazendo uma pesquisa pro meu blog..."?
Mas um chocante tão bacana! Coisa fina mesma. Altamente recomendo. Como tudo que leva o JP de Andrade assinado.

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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Rapidinhas

Vi na tevê a cabo o filme sobre o Jean Charles de Menezes, do Henrique Goldman. Bem-feitinho, mas também meio duro de engolir. Ragação de seda, aparência de feito às pressas, análise e crítica social meio que for dummies. Contraditoriamente, recomendo.

Faz já algum tempo, vi também na tevê a cabo um filme sobre duas meninas prostituídas. Um fazendeiro dava uma delas de presente pro filho, depois estuprava ela, aí mandava as duas pra uma cidade de mineiros onde elas foram vendidas por 5 gramas de ouro ou coisa que o valha pra uma fila que durou até o amanhecer, depois elas fugiam pelo mato. Virou meu estômago. Coisa de mau gosto. Vi 15 minutos e estou horrorizada até hoje. Tenho pesadelos. Quem soubre o nome do filme, me avisa.

Tentei ver Glauber Rocha durante as férias. Não muito insistentemente, devo admitir. Deus e o diabo estava com problema na gravação, vou ter que baixar de novo. Terra em transe eu comecei três vezes. Glauber me lembra Tarkovski porque sempre durmo antes do fim dos filmes. Apesar de perceber a importância deles. Acho que sei como se sentem meus alunos quando apareço com um livro novo superimportante pra eles lerem.
Vou continuar tentando.

Gosto mais de Júlio Bressane que de Sganzerla. Mas é mais difícil de conseguir pra baixar.

Começo de semestre, depois que a gente vira adulto, é ainda pior que fim de semestre. Ainda mais quando a gente tem o hábito da procrastinação.

Postar decentemente leva cerca de duas horas. Logo eu volto.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A família Faria - Assalto ao trem pagador e Lili, a estrela do crime


Farejei aqui uma família bacana do cinema brasileiro. Uma não, duas. Mas vamos por partes, como diria a rainha Dona Maria. Primeiro teve a história do Grande Otelo. Achei que deveria ver uns filmes com ele, grande personalidade do cinema brasileiro como é. Também a Oficina Cultural aqui da minha cidade tem o nome dele, então pra mim é figura antiga, há muito de ver por que fazem tanto barulho a respeito dele. Eu sabia já que ele tinha feito Macunaíma no filme do Joaquim Pedro, mas um filme não basta, ainda mais sendo mais um do Quizinho, que eu já vi tantos, e precisava também ser uma coisa menos do diretor e mais do Otelo, então fui procurar, via Google, o que ver. Acabei achando uma entrevista com o Grande Otelo no Roda Viva, que rendeu até um post.

Só que essa entrevista rendeu muito mais que um post. Parece mentira, rasgação de seda, mas aprendi um bocado de coisa com o Grande Otelo. Por fim, de tanto comentarem lá, no Roda Viva, acabei descobrindo que pra ver Otelo, tinha que ver Assalto ao trem pagador, do Roberto Faria, feito em 1962. Aí é que as coisas começam a se enredar.

Pois bem, eu estava outro dia passeando no blog do Markito e acabei me interessando pelo cartaz de um filme chamado Lili, a estrela do crime. Curti porque estava para ver Matou a família e foi ao cinema, e pensei em fazer uma dobradinha policial. Lili, a estrela do crime é uma romantização da história da Lili Carabina, uma bandidona famosa dos anos 70 e 80, na mesma linha do Luz: de tanto sair no jornal, acabou virando heroína nacional. Rebelde-contestadora. Taí, gostei, pensei. Fora que isso é que é nome de bandido! "Lili Carabina"... Um dia boto esse nome numa gata que eu tiver...

Acontecemente que Lili foi dirigido por um camarada chamado Lui Farias, que é filho do Roberto Faria (o S a mais no nome do Lui é erro de cartório), que foi quem dirigiu Assalto ao trem pagador e se cobriu de prêmios e glória. Quanto às glórias do Lui, se você fizer uma busca Google nele, a primeira informação que vai encontrar é que ele é o marido da Paula Toller, aquela do Kid Abelha (banda que, aliás, fez a trilha sonora do filme). Pra quem é muito moço e não tem amigo quarentão, a Paula Toller é a queridinha de todos os meninos da geração dela e da seguinte, ela era a cobiça de todo mundo, mas quem faturou foi nosso querido diretor Lui Farias. Mandou bem!

No Assalto, o Grande Otelo faz um personagem chamado Cachaça. Não é um dos personagens centrais, mas dá pra ver bem porque elogiam tanto a atuação do Otelo. O Roberto Faria deu até um jeito de botar ele pra cantar e dançar no filme. Formado ator uma parte do no circo e uma parte do Cassino da Urca, onde ele fazia números musicais, Grande Otelo fez nome no cinema no período das chanchadas, ou comédias musicais, aquelas preto-e-branco. Fez uma porção delas! Formado, também, no Coração de Jesus, uma das mais tradicionais melhores escolas de São Paulo, homem cultíssimo, elegantíssimo, vocês tinham que ver, de terno azul marinho e meias vermelhas lá na entrevista do Roda Viva. Nesse filme a gente vê uma cena memorável dele, quando, vendo um caixão de criança, com o respectivo cortejo fúnebre, a pé, descendo o morro, diz: "Quando morre uma criança na favela, todo mundo devia de cantar. É menos um pra se criar nessa miséria."


No filme também está a Helena Ignês, esposa do Rogério Sganzerla, que fez a namorada do Luz Vermelha e a Ângela Carne e Osso no A mulher de todos, que é dele também. É ela quem vai dirigir o roteiro da sequência de O bandido da luz vermelha, que o Sganzerla deixou com ela antes de morrer e que sai, espera-se, ainda este ano, com o Ney Matogrosso no papel principal.

É desnecessário dizer que Assalto ao trem pagador, carregado de prêmios como foi, é um ótimo filme, de altíssima qualidade técnica, com um senhor de um roteiro, personagens bacanésimos e do elenco não precisa nem falar. Mas também Lili, a estrela do crime é um filme jóia. Eu ri, eu ri, assistindo o filme! O figurino anos oitenta, a maquiagem glam rock, os cenários em que a Lili apavora, o barraco cor-de-rosa dela no morro, tudo é muito bom. Mas há que se mencionar o Reginaldo Faria nesse filme, fazendo o detetive que quer prender a Lili. O roteirista fez ele meio maluco, o cenógrafo pirou um pouco mais na batatinha (o apê do detetive...! tem até um consolo em cima da cômoda onde fica o telefone) e o Reginaldo foi na dança, e fez um cara completamente pirado. Mil vivas pra ele que ficou mesmo foi muito bom!

Reginaldo Faria é tio do diretor Lui Faria, irmão, portanto, do Roberto Faria que fez o Assalto, em que o Reginaldo também estrelou. Quando comentei dessa família com um amigo meu, ele disse "é o tipo de família que discute enquadramento na mesa do café da manhã". E com a Paula Toller enfeitando a mesa.
(O personagem principal, a Lili Carabina, quem faz é a Betty Faria, que, apesar do nome, não tem nada a ver com a família em questão.)

A segunda família são os Escorel, filhos de diplomata e queridos do Grande Otelo, mas isso é história pra outro post, depois que eu der lá uma vista nos filme deles.


Assalto ao trem pagador (1962)
Policial, 89 min.
Direção: Roberto Faria
Roteiro: Roberto Faria
Atores: Reginaldo Farias, Jorge Dória, Átila Iório, Ruth de Souza, Helena Ignês, Luiza Maranhão, Dirce Migliaccio, Miguel Rosenberg, Grande Otelo

Lili, a estrela do crime (1988)
Policial, 91 min.
Direção: Lui Farias
Roteiro: Lui Farias, Vicente Pereira, Aguinaldo Silva
Atores: Betty Faria, Reginal Faria, Mário Gomes, Júlio Levy, Miquimba, Colé Santana, João Signorelli, Patrícia Travassos

Dois filmões! Recomendo muito.


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domingo, 11 de julho de 2010

Matou a família e foi ao cinema


"Matou a família e foi ao cinema" é uma das frases mais famosas do cinema brasileiro. É o título de um média-metragem de 1969 de Júlio Bressane. O filme fala desses crimes sem sentido que a gente lê (lia) naqueles jornais de que se dizia "se espremer sai sangue". Aquelas manchetes com uma frase resumindo o caso da maneira mais macabra possível, pra você se espantar e comprar o jornal pra ler a notícia, e quando você ia ver, a manchete completamente distorcia a notícia e você acabava com os crimes mais banais num jornal que sujava sua mão. Tinha quem gostava, desses jornais.

Não é o caso de Júlio Bressane. Ele realmente te entrega a lebre que vendeu. O filme começa com cenas de um apartamente de cidade grande, com uma família de classe média já meio enlouquecida dentro. O filhinho, de uns 30 anos, enche o saco e acaba com papai e mamãe com uma navalha. E em seguida vai ao cinema.

Seguem-se outras história macabras, como as das duas mocinhas que se amavam. A mãe de uma delas descobre, fica fula, ameaça separar as duas e, no dia que pega elas no ato, acaba sendo sufocada pela filha, enquanto a namorada - numa cena bacaníssima - fica sentada numa cadeira, em segundo plano, lixando as unhas. Tem também a história do pai de família malandro e bêbado, que gasta a pouca grana que tem no bar, enquanto a mulher e o filho bebê passam fome em casa. Num belo dia a mulher dele diz que já está cheia, que já achou "quem a sustente" e que ela vai embora. Pai de família macho pode deixar mulher ir embora com outro homem? Dá-lhe pipoco na mulher e no bebê. E depois o cara fica lá sentado, a câmara focada no rosto dele, uma marchinha de fundo, e ele repetindo "Matei por amor! Matei por amor!"

Essas histórias são interferências na história principal, a que a história do moço que mata a família e vai ao cinema é um prelúdio. A história principal, aquele em que o Júlio Bressane passa mais tempo trabalhando, é sobre uma moça rica decidindo se separa ou não do marido chato, sozinha na mansão com a melhor amiga. As duas moças piram sabe-se lá de quê, fazem uma senhora festa (só as duas), e à noite, de pijama, já mais loucas que o batman, acabam se matando enquanto brincam com as armas da coleção do marido chato. O que rende umas cenas muito legais.




A questão é que quando elas tão quase pra se matar, aparece uma interferêcia de uma cena com as duas tranquilamente sentadas num parque, do lado de um carrinho de bebê, e uma delas comenta que foi ao cinema ver um filme nacional com o marido, sobre duas moças sozinhas numa mansão, que faz ela se lembrar "daquela noite em Petrópolis". O filme chamava Perdidos de amor, que era o mesmo filme que o cara vê no cinema depois que mata a família. E a gente fica meio perdido. Essas histórias, "aconteceram" como o assassinato da família louca do moço ou são só o filme que ele está assistindo? Ou talvez só a história das moças que é? E você se pergunta, então, o que é verdade e o que é cinema. No filme.
Confuso, né? Bom, também.

Matou a família e foi ao cinema faz parzinho com O bandido da luz vermelha do Sganzerla, de 1968. Os dois são grandes marcos do Cinema Marginal, que vinha surgindo como uma contraproposta, em tema e estética, ao Cinema Novo. São também dois policiais baseados em notícias de jornal. Em O bandido da luz vermelha, a narração era toda feita de manchetes de jornal da época, sobre o Luz e outras bizarrices que iam acontecendo. A diferença está em que, enquanto o Luz era um bandido-estrela, um rockstar do crime, Matou a família fala sobre crimes ordinários, que acontecem todo dia como pequenas tragédias particulares.

O filme de Júlio Bressane também me faz pensar também naquela música do Chico Buarque chamada justamente Notícia de Jornal, que começa com como se fosse uma manchete: "tentou contra a existência num humilde barracão" e termina com "a dor da gente não sai no jornal". Mostrando mais fatos, mais humanidade nas notícias macabras que a gente lia naqueles jornais "se espremer sai sangue", o Bressane dá conta dessa dor da gente que no jornal nunca sai.


Matou a família e foi ao cinema (1969)
Drama, 80 min.
Direção: Júlio Bressane
Roteiro: Júlio Bressane
Atores: Márcia Rodrigues, Renata Sorrah, Antero de Oliveira, Vanda Lacerda


Se você resolver ver, atenção que tem um remake de 1991 com o Alexandre Frota e a Cláudia Raia, dirigido por Neville D'Almeida. Não vi, não sei se é bom ou não, mas eu tenho o hábito de desconfiar de remakes.

A versão que está rodando na internet tem legendas em italiano. Não atrapalha muito. Eu achei usando um torrent mesmo, mas também dá pra ver no youtube, todinho.


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sábado, 3 de julho de 2010

Garrincha, alegria do povo


Em dia de eliminação da Copa do Mundo, achei que fazia sentido assitir um filme sobre futebol. Mais um do Joaquim Pedro, Garrincha, alegria do povo foi o primeiro documentário esportivo do Brasil. É um média metragem de 60 minutos, a metade deles pelo menos com imagens das copas de 1958 e 1962, cheias de gols incríveis de Garricha e Pelé. Aliás, foi inspirada por essa obra do Quinzinho que eu botei o Garrincha nessa imagem aí no topo do blog. Esse moço aí com a bola no pé, entre a bandeira do Brasil império e o Glauber Rocha, é o Garrincha.

O filme informa que o Garrincha era "guloso e com tendência a engordar" e que era rebelde nos treinos de preparo físico, no Botafogo. Eu fiquei olhando aquilo e pensando, se fosse hoje, um jogador assim, o Dunga não tinha escalado! Tinha ido pra Copa do Mundo sem Garrincha! Não tinha?

Na final da Copa de 58, ano que ganhou o primeiro título, o Brasil tinha maior famão de perdedor de finais.

Os comentaristas internacionais (...) não indicavam favoritos, mas achavam que se a Suécia fizesse o primeiro gol ganharia o jogo, porque os brasileiros iam perder a cabeça na certa.

E a Suécia fez o primeiro gol. Mas ao invés de se desestruturar, como fez a selecinha do Dunga ontem, o Brasil reagiu, o Garrincha fez bonito, o Pelé finalizou e a seleção de 58 saiu campeã com 5x2 em cima dos suecos.

A Copa de 62 foi mais dramática. Garrincha, gordinho e desinspirado, não deu o ar da graça nos dois primeiros jogos. O Pelé foi que meteu 2x0 nos mexicanos, e depois, contra a Tchecoslováquia no segundo jogo, distendeu a virilha e ficou de fora o resto da Copa. Sem Pelé, a brasileirada tava tensa no terceiro jogo contra a Espanha, mas Garrincha tomou chá de "encontrei-me" e praticamente ganhou a Copa sozinho. Salve Mané.

O futebol exerce sobre a emoção do povo um poder que só se compara ao poder das guerras. Leva o país inteiro da maior tristeza à maior alegria. Para explicar esse fenômeno, há duas teorias. Uma diz que a bola de futebol é um símbolo do seio ou do ventre materno, de modo que se compreende o ardor com que os jogadores disputam o jogo e a preocupação dos torcedores com o destino da bola. A outra teoria, mais sensata, diz que o povo usa o futebol para gastar o potencial emotivo que acumula por um processo de frustração na vida cotidiana. O universo lúdico do estádio é um campo mais cômodo para o exercício das emoções humanas. O último apito do juiz devolve o torcedor a sua realidade, aos caminho que vão e partem da segunda-feira até que o ciclo se feche com o primeiro apito dum novo jogo.

O Quinzinho passa a maior parte do tempo falando de Mané Garrincha, de Copas vencidas e da admiração do povo pelos jogadores até que, no minuto 45 do filme, ele entra com esse texto aí em cima e começa a desconstruir a imagem fofa que tinha estando montando. Imagem de violência extrema atrás de imagem de violência extrema, no campo e na arquibancada, seguida de uma moçada toda sorridente, e finalmente deixando o estádio e voltando pra ele no domingo seguinte, Quinzinho fecha o documentário numa clave crítica. Será mesmo legal manter o povo assim na sina de exercer sua emoções humanas num estádio de futebol? Ou seria melhor a gente aprender mais que logo a se libertar do ciclo do apito a apito e aprender a ser gente?

Agora então que acabou a Copa, melhor voltar a falar de arte e de política, né?


Garrincha alegria do povo (1963)
Documentário, 58 min.
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Roteiro: Joaquim Pedro de Andrade, Luiz Carlos Barreto, Armando Nogueira, Mário Carneiro, David Neves


E com vocês, a palavra dos especialistas. Sobre Garrincha, alegria do povo, Dom Glauber Rocha:

GARRINCHA E A VERDADE 
Glauber Rocha

Analisar Garrincha oferece os dados finais para concluir um capítulo sobre as origens do Cinema Novo no Brasil; dispensa ao mesmo tempo, diante do próprio filme, perguntas e respostas precipitadas sobre o que é este Cinema Novo. Garrincha é o novo cinema nacional, assim como Vidas Secas e Sol sobre a Lama. Poderia caracterizá-lo como um cinema de autor realizado numa expressão técnico-estética, onde idéia e mise-en-scène significam um corpo ativo de realismo crítico. (...) Garrincha é um tipo de cinema-verdade e não cinema-verdade como um tipo de cinema. Exigindo um rigor terminológico, eu proponho o cinema de autor como cinema-verdade: para situá-lo como síntese Cinema Novo.  

E Sêo Nelson Rodrigues:


À SOMBRA DAS CHUTEIRAS IMORTAIS
Nelson Rodrigues


(...) Amigos, eu tenho a maior desconfiança de qualquer documentário pelo seguinte: – o documentário é o mais burro dos gêneros. Isso por um lado. Por outro lado, o verdadeiro documentário é a poesia. Ou o sujeito recria poeticamente as coisas ou naufraga num pires d'água. (...) Se me perguntarem o que me impressionou mais na fita, eu diria: – as caras. Com a meticulosa, obsessiva paciência de um Proust visual, o Joaquim Pedro andou catando, no Maracanã, as reações fisionômicas da torcida. No ser humano, só a cara importa e o resto é paisagem. E, na fita, o que vemos é a máscara humana na sua infinita variedade. Uma coisa vos digo: – não há Nápoles, não há rio, ou mar, ou Via Láctea, ou aurora, ou poente que seja tão patético como as caras desdentadas que o Joaquim Pedro descobriu.

Ambos textinhos na página do filme no delicioso site da Filmes do Serro!


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sexta-feira, 25 de junho de 2010

Grande Otelo no Roda Viva


Eu estava passeando pela internet tentando decidir que filme com o Grande Otelo, além do Macunaíma do Quinzinho, eu devia assistir, quando encontrei, no site da TV Cultura, um Roda Viva com ele, de 1987.

Muito legal é notar que o Roda Viva é o mesmo desde faz esse tempão todo. Hoje em dia quem apresenta é o Heródoto Barbeiro, que eu curto demais, e em 1987, era o Rodolpho Gamberini. Mas o resto, é a mesma coisa. Sabe os twiteiros do Roda Viva? Que você manda perguntas por twitter e eles passam pros entrevistados? Então, já tinha! Mas era pelo telefone. O que é muito legal porque é de antes da época da "interatividade" com a tevê.


O Paulo Caruso estava lá também. Desenhando bem como sempre, mas olha a cara do Caruso nos anos 80, que pão!


Falando em pães, o Paulo Betti, que foi mencionado aqui num post de não faz muito tempo, estava lá também, na entrevista com o Grande Otelo. E mesmo que não seja o melhor dos diretores brazucas (mas que estava muito bacana em Lamarca e também de Ed Mort), não se estava de jogar fora nos anos 80. Olha só!


Eu sou muito fã do Roda Viva. Gosto muito de programas de entrevista, com o Bóris Casoy, o João Gordo, o Mojica Marins ou até a Marília Gabriela, mas o formato do Roda Viva é o melhor. Não é à toa que está no ar há quase 25 anos. Ano passado, durante as comemorações dos 40 anos da TV Cultura, eles reprisaram alguns Roda Viva antigos, e eu consegui ver um com a Dercy Gonçalves que foi muito bacana.

Além das entrevistas com artistas, sempre muito legais (a última que eu vi foi com os gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon, que gostam de fazer piada com a quantidade de gêmeos cartunistas no Brasil - os Caruso também são gêmeos), o Roda Viva prima mesmo é pelas entrevistas políticas. Brilhantes, brilhantes! Eu queria encontrar o clássico do Quércia esquentadinho (não achei nos arquivos do site, mas dá pra ver no youtube) e acabei tropeçando em... Luís Carlos Prestes! Aquele mesmo, da coluna Prestes do tenentismo, "marido" da Olga Benário que foi mandada pra Alemanha nazista pelo Vargas, o comunista. Deve ser uma entrevista magnífica (é de 1986, o programa)!

Fiquei tão empolgada em dividir o achado do Grande Otelo com vocês que não deu nem tempo de assistir o programa. Bora lá assistir, porque cinema, afinal, não é só a tela grande e os 90 minutos de ficção. É também a gente que faz, a história que traz e nosso envolvimento com ele. O objetivo do projeto é aumentar o envolvimento com o cinema brasileiro, não só ver os filmes. E o cinema acaba vazando para a tevê, e a tevê também tem uma história que pode ser querida. Roda Viva ou Programa Abertura, faz parte da experiência de quem curte imagem em movimento. Correto?


Roda Viva passa toda segunda-feira às 22h00 na TV Cultura, e a gravação do programa é as 18h00 das segundas, com transmissão ao vivo pela internet. Aí vc pode mandar seus tweets!
O próximo programa vai ser com a Dilma, e teve também um com o Serra e outro com a Marina, o que é muito bom porque pode te ajudar a decidir em quem você vai votar quando a Copa do Mundo acabar!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O cheiro do ralo


por Ítalo Rosendo

Baseado na obra do Lourenço Mutarelli (só sei porque fala no começo), tem como ator principal Selton Mello, que possui um jeito peculiar de interpretar, que combinou muito bem com o estilo pseudo-drama retratado.

O filme tem como tema central A Bunda e O Cheiro do Ralo; e em segundo plano tem O Olho. E a partir desses três itens inicia-se a trama.

Classifico esse filme como Cult e pra mim está na lista de filmes “mindfuck”, aqueles que nos fazem quebrar a cabeça por possuir tanto simbolismo e analogias realmente abstratas. Sofre um pouco do fardo clichê dos filmes brasileiros de possuir putaria, mas não é uma putaria qualquer, é uma putaria filosófica (?).

O protagonista é um cara muito perturbado e fudido, que trabalha comprando coisas velhas das pessoas pra revendê-las. E, por ser fudido, perturbado e infeliz, ele só isso tem a oferecer a tudo em volta dele.

Diálogos simples, monólogos simples, mas nessa simplicidade é possível extrair muita coisa para refletir. Além de tudo o ambiente e a linguagem corporal enriquecem bastante.

Concluindo minha pseudo-análise, o filme é muito bom, possui uma carga grande de reflexão se você conseguir captar o sentido real do que se mostra, talvez essas reflexões possam ser subjetivas, já que de tão profundas que são (ou não) o único modo de compreendê-las é ser tão perturbado e estranho quanto aquilo que se observa. Mas aí depende da onde vem mesmo o cheiro do ralo.

O cheiro do ralo (2007)
Comédia, 112 min.
Direção: Heitor Dhalia
Roteiro: Marçal Aquino e Heitor Dhalia, baseado em livro de Lourenço Mutarelli
Atores: Selton Mello, Paula Braun, Lourenço Mutarelli, Flávio Bauraqui, Fabiana Guglielmetti, Martha Meola, Susana Alves


Ítalo Rosendo é meu colega de faculdade, que foi um fofo de curtir o blog e escrever sobre o filme preferido dele. Eu também vi O cheiro do ralo, antes de começar o projetinho filmes brasileiros em 2010, e também gostei muito. Também é um dos filmes preferidos do meu namorado. Êita sucesso!


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sábado, 19 de junho de 2010

Cafundó


Há um tempinho, eu consegui trazer um professor meu pra fazer uma visita aqui no blog, o professor Marum lá da minha faculdade de Direito, e o cara curtiu tanto que, na terça-feira seguinte, ele me trouxe um filme pra eu assistir. Era o Cafundó. Meu namorado já tinha me falado pra ver esse filme, e uma outra professora lá da faculdade também fez uma indicação geral pra turma pra ver ele. Todos por motivos diferentes. A professora Daniela estava fazendo a gente ler Casa grande e senzala e Darcy Ribeiro, e queria que a gente observasse a coisa das relações de raça no fim do XIX, começo do XX. Meu namorado queria que eu visse por causa do João de Camargo, por ser um cara espiritualizado. O Marum? O Marum queria que eu visse ele no filme! "Depois você olha nos créditos finais e vê o que foi que eu fiz no filme."

Eu copiei o DVD dele e, na hora de ler os créditos finais, eles estavam fora de foco. Não sei o que foi que o Marum fez, se foi algum tipo de consultoria ou apoio. Manti os olhos bem abertos durante todo o filme procurando ele e não encontrei. Então, se foi figuração o que ele fez, só pode ter sido a mulher barbada.


O Paulo Betti me desculpe, mas, como execução, o filme tá bem fraquinho. A história é bacana e vocês vão ver quanta discussão o filme rende. Mas tá bem chatonildo. Mesmo assim, eu recomendo que vocês vejam, pela história, pela discussão. Especialmente se você for sorocabano, porque daí faz parte da sua história. Quando a gente é sorocabano, tem que fazer essas coisas, passear no Campolim, saber o que é um muar, assistir filme do Paulo Betti...

O João de Camargo é uma figura religiosa sorocabana. Meio espírita, meio candomblé, meio católico (adoro gente de três metades). Ele era meio curandeiro, meio milagreiro, meio santo. E fundou aqui uma Igreja que existe até hoje. A localização da capela é a coisa mais louca. Eu já sabia há muito tempo do João de Camargo, e também passei bastante tempo com o filme do Marum esperando na fila pra ser visto (antes de ver o filme, eu precisava terminar as leituras da matéria dele, viu, professor?), mas não sabia da tal da capela. Descobri do jeito mais prosaico. Eu estava no ônibus indo pro Campolim (coisa de sorocabano) e ouvi um homem pegar o celular e dizer "Já estou chegando aí, estou no ônibus, já, aqui do lado da igreja do João de Camargo." Aí eu olhei pro lado, e, sabe qual é a capela do Senhor do Bonfim João de Camargo? É aquela azul e branquinha, com o jardim bonitinho, que fica com desnível da rua lá na Barão de Tatuí! Minha vida inteira eu passei do lado dela e não sabia qual era!


O filme chama Cafundó por que o João morou um tempo lá. O Cafundó é uma comunidade remanescente de quilombo que fica em Salto de Pirapora, município a uns 50 quilômetros daqui. É uma comunidade antiquíssima, que passou a maior parte do tempo escondida da sociedade comum. Quando "acharam" eles lá, em 1978, eles não estavam no século XX, e falavam um dialeto diferente. Imagina só!

Eu fui pra lá uma vez, no meio da campanha que eles estavam fazendo lá pra conseguirem a posse da terra que ocupam há mais de 150 anos. A questão é que eu não me lembro com que grupo eu fui, se foi algum passeio de alguma organização negra sorocabana, ou algum grupo político. Eu lembro de ter visto um ritual religioso que me impressionou horrores (eu nunca fui em terreiro de candomblé nem nada parecido, tudo que eu vi de ritual religioso foram umas missas e, mesmo assim, bem poucas), com música e dança e roupas especiais. Lembro que foi lá a última vez que andei a cavalo. Quase caí. Isso foi há mais de dez anos.

Saiu esses dias o Estatuto da Igualdade Racial. A questão da posse da terra por comunidades remanescentes de quilombos ficou de fora. Ali no Cafundó, a coisa deu certo, depois de muita luta. Eu li na internet que a comunidade, que ocupava tradicionalmente 218 hectares, ganhou em 1976 a posse de 21 hectares. Bonita coisa pra uma sociedade agrícola. Continuaram batalhando e, finalmente, em 2004, conseguiram os 218 hectares que eram deles e haviam sido ocupados, ao longo do tempo, por fazendeiros da região. O artigo menciona mortes dos dois lados.

Uma vez eu tomei uma cerveja com uma mulher que participou da figuração do Cafundó, dançando. Conheci ela ali no Bozó, que fica, aliás, pertinho da igreja do João de Camargo. Era carnaval, e a gente já estava bem trilili, cantando samba e tudo o mais, quando o papo do Cafundó surgiu. Ela falou que fez o filme e eu falei que tinha ido lá. Ela ficou passadíssima, dizendo que queria ir muito lá, como se, de alguma maneira, o quilombo fosse parte da origem dela. Acho improvável, considerando que é um grupo fechadíssimo de umas 20 famílias, mas a questão é que o Cafundó virou parte da tradição negra por aqui. Pode não ser vistoso como Palmares, mas o Domingos Jorge Velho não achou esse aqui.

Cafundó (2005)
Drama, 100 min.
Direção: Clóvis Bueno e Paulo Betti
Roteiro: Clóvis Bueno
Atores: Lázaro Ramos, Leona Cavalli, Leandro Firmino, Francisco Cuoco, Flávio Bauraqui, Alexandre Rodrigies, Luis Melo


Em tempo: piadas à parte, o professor Marum me informou ontem, depois da prova, que foi dureza, que ele ajudou a financiar o filme, por ter achado o projeto bacana e ser amigo do Paulo Betti. Me disseram que o filme demorou à beça pra sair por causa da dificuldade de levantar a grana pra financiar, mas finalmente rolou, em parte por ajuda do Marum. Três vivas!

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quarta-feira, 16 de junho de 2010

Os inconfidentes


Mais um longa do Joaquim Pedro. Este aqui é muito bacana. É um drama histórico sobre... a Inconfidência Mineira, nenhuma surpresa até aí. Foi feito com a habitual qualidade dos filmes do Quizinho (por que eu e êle agora estamos superíntimos, precebe?) e também com algumas cenas loucas que denunciam o Cinema Novo, das quais minha preferida é a cena de abertura, porque fala da mesma coisa que sempre mais me assombrou na história da Inconfidência: a idéia do Tiradentes apodrecendo, aos pedaços, no caminho de Vila Rica até a corte.


É um filme bem bacana este, recomendo muito e acho que vai agradar muita gente. Tem crítica aberta ao Tiradentes, o Tomás Antônio diz dele "Aquele fanático me aborrece. Não quero vê-lo". Serve bem pra quem gosta de duvidar do Tiradentes pelo hábito de duvidar de quem apontam como herói. O que é um hábito muito saudável, mas, guardando-se as proporções, não vejo muito problema em cultivar um ou dois heróis nacionais. Faz bem, pra quem tem tradição de lutas inglórias.

Apesar das cenas loucas, que costumam incomodar quem não está educado a assistir, a maior dificuldade dele não está nas imagens - as cenas loucas são poucas -, mas no texto. O Quinzinho (com a ajuda de um Sr. Eduardo Escorel) fez o roteiro todo usando apenas textos dos autos da devassa e de poemas do Cláudio Manoel da Costa, do Tomás Antônio Gonzaga, do Alvarega Peixoto e do Romanceiro da Inconfidência da Cecília Meireles, porque, além de um pão, ele era um homem muito ligado à poesia (suspiro!).

Foi muito bacana ver, na telinha da tevê, o Tomás Antônio Gonzaga em carne e osso acordando o Manoel da Costa justamente com meus versos preferidos das Cartas Chilenas:


AMIGO DOROTEU, PREZADO AMIGO,
ABRE OS OLHOS, BOCEJA, ESTENDE OS BRAÇOS
E LIMPA DAS PESTANAS CARREGADAS
O PEGAJOSO HUMOR, QUE O SONO AJUNTA
CRITILO, O TEU CRITILO É QUEM TE CHAMA:
ACORDA, SE OUVIR QUERES COISAS RARAS.
QUE COUSAS, (TU DIRÁS), QUE COUSAS PODES
CONTAR, QUE VALHAM TANTO QUANTO VALE
DORMIR A NOITE FRIA EM MOLE CAMA?
(...)
ACORDA, DOROTEU, ACORDA, ACORDA;
CRITILO, O TEU CRITILO É QUEM TE CHAMA.
(O texto completo dessa, que é a primeira carta, você acha aqui.)

Você precisam entender que o ciclo árcade de Minas Gerais é um pedaço muito querido meu da literatura brasileira. Sempre fui muito fã desses caras que o Quinzinho pegou e botou na tela usando o Fernado Torres, o Carlos Kroeber e o Luiz Linhares. Vibrei demais. Vibrei também em ver na telinha, com cara de louco e chapéu de três bicos, o senhor da Silva Xavier em pessoa, na pessoa, aliás, do Zé Wilker!

Esse Zé Wilker me pegou de jeito. Sempre conheci ele das novelas da tevê, não cheirava nem fedia, era só mais um ator global pra mim. Tanto fazia como tanto fez. Até que eu vi ele de governador da capitania de Minas (ó! ironia!) no Xica da Silva do Cacá Diegues, mandando muito bem. A partir daí, ele começou a aparecer em toda parte. Até que em Dona Flor eu tive que dar o braço a torcer que o cara é muito bom ator. E requisitadíssimo, por sinal. Só dos que eu me lembro agora, trabalhou com o Joaquim Pedro, com o Cacá Diegues e o com o Bruno Barreto. Quando eu crescer, quero ter um currículo assim também. Fiquei achando ele meio parecido com o John Malkovitch, que que vocês acham?

Lá pro fim do filme, o Quinzinho resolveu usar uns recursos teatrais pra disposição dos atores pra fazer sobrepor umas cenas. Desse jeito, a gente consegue ver o famoso "Dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria" logo antes da entrada da Dona Maria, ainda não louca, que vem pessoalmente recitar pra gente a medonha sentença do Tiradentes. Ela, isto é, a Coroa, meio que perdoa todos os envolvidos, trocando a pena de forca a degredo, menos pro Tiradentes, que era o único que não era figurão na patotinha. Lembram que a profissão dele, além dos bicos de dentista, era alferes? Fui perguntar pro Houaiss, e um alferes é um oficial de patente abaixo do tenente, um segundo-tenente. É o primeiro posto da carreira do oficialato. Não é muito, certo? Se mandar enforcar, esquartejar, pendurar os pedaços daqui até o Rio de Janeiro, ninguém vai sentir muita falta, certo?

Olha aí a sentença do Tiradentes. Para os meus amigos advogados, gente estranha que gosta de ler sentença, o texto integral pode ser encontrado aqui.

Portanto condenam ao Réu Joaquim José da Silva Xavier por alcunha o Tiradentes Alferes que foi da tropa paga da Capitania de Minas a que com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas publicas ao lugar da forca e nella morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Villa Rica aonde em lugar mais publico della será pregada, em um poste alto até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregados em postes pelo caminho de Minas no sitio da Varginha e das Sebolas aonde o Réu teve as suas infames práticas e os mais nos sitios (sic) de maiores povoações até que o tempo também os consuma; declaram o Réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens applicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Villa Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique e não sendo própria será avaliada e paga a seu dono pelos bens confiscados e no mesmo chão se levantará um padrão pelo qual se conserve em memória a infamia deste abominavel Réu... 

Minha parte preferida é a que manda morrer morte natural para sempre... Me perdoem, só mais um pouquinho. Quero mostrar ainda a sorte do Manoel da Costa, que escreveu uns lindos poemetos.

Ao Réu Claudio Manoel da Costa que se matou no carcere, declaram infame a sua memoria e infames seus filhos e netos tendo-os e os seus bens por confiscados para o Fisco e Câmara Real. 

Olha aqui, tem o texto da Cecília Meireles (para deficiente visuais. ?!). Não tem paciência pra ler poesia? Pra ouvir Chico Buarque você tem, né? Tá aqui, o tema de Os inconfidentes do Chico, feito com poema da Cecília. (Jornalista: "- Chico, o que você acha de ter sido eleito o homem mais sexy do Brasil?" Chico: "- Isso é ridículo! Eu tenho 60 anos!!". Nem tão ridículo assim, meu bem, nem tanto assim...)



Os inconfidentes (1972)
Drama/ Histórico, 100 min.
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Roteiro: Joaquim Pedro de Andrade e Eduardo Escorel
Atores: José Wilker, Luiz Linhares, Paulo César Peréio, Fernando Torres, Carlos Kroeber, Nelson Dantas, Carlos Gregório, Margarida Rey, Susana Gonçalves

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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Quilombo



Esses dias eu estava vendo o programa da Regina Casé, Um pé de quê (que eu adoro), e, no episódio da Catolé, que é a palmeira que deu o nome a Palmares, ela cruza com um ator lá onde foi Palmares, e abraça o homem dizendo "que coincidência bacana, encontrar aqui em Palmares o ator que fez Zumbi no Quilombo do Cacá Diegues...". Eu pensei, ôpa. Assisti o filme errado, se eu queria ver Palmares, cena de luta e capoeira, não tinha que ter visto Ganga Zumba, de 1964, devia ter visto Quilombo, de 1984.

Reclamei até cansar de não ter visto Palmares no filme do Ganga Zumba. Este outro aqui é só o que tem. Com trilha sonora do Gilberto Gil. Os atores que eu mais curti ver ali foram a Zezé Mota, sempre linda-poderosa, de Dandara, e o Grande Otelo, já velhinho, fazendo como que uma participação especial, ensinando as crianças.



A história começa lá atrás, no mesmo ponto que começava o outro filme, com a fuga de Ganga Zumba. A história desse aqui não guarda coerência histórica com o anterior. As razões para fuga são outras, os personagens são diferentes, e, nesse aqui, o menino que viria a ser Zumbi nasce no caminho da fuga. No outro não tinha disso. A gente vê uns 30 anos no filme, talvez um pouco mais. Quando a moçada chega em Palmares, a chefe é uma velha, e ela passa a chefia para o Ganga. Depois o Ganga tem um racha com o povo de Palmares, toma uma decisão errada e, pra consertar, toma veneno e morre. Daí a chefia passa finalmente pro Zumbi.

O Cacá resolveu usar uma porção de recursos cenográficos teatrais, o que é muito bacana. Tinha, por exemplo, em algumas cenas, uma porção de potes de barro, muito, mas muito mesmo potes de barro, empilhados por toda parte. Eu achei, primeiro, que era pra mostrar fartura. Pote de barro é uma coisa que as pessoas usam, não é enfeite. Pra eles estarem ali, empilhados, é que tinha sobrando. Não desachei isso, pois tinha também uma cena de colheita com a moçada recolhendo abacaxi e pimenta de monte, não mandioca, abacaxi e pimenta. Aquela fartura colorida linda. Mas também achei outra coisa quando, no fim do filme, depois da guerra, a câmara mostra as ruínas de Palmares e todos os potes estavam quebrados.

Outro recurso usado foi a pintura dos atores. Não era uma coisa urucum, pintura de guerra de índio. Era tinta azul, e branca, e vermelha, e verde, a diferença das cores servia cada hora pra um fim. As pessoas andavam também vestidas com panos coloridíssimos, como, no século XVII, não se veria na corte! E dançavam. Como dançavam! O pico era pior que Porto Seguro, carnaval o ano todo. O maior dancê. Até pro Ganga Zumba pensar, pra tomar decisão politica, ele pensava dançando. Aquele festão toda noite, o povo dividindo uns cigarros...

Agora o melhor do filme foi quando surgiu... tan-tan-taram! O Domingo Jorge Velho. Me acabei naquela hora! O bacana é que, no filme, todos os negros são elegantes, com os panos coloridos e as pinturas e tudo, e todos os brancos são metidos-a-besta, usando aquelas roupas nada a ver com Pernambuco, mas o bandeirante chega a pé, caminhando que nem escravo no meio do canavial, ele e um time de uns outros quatro paulistas, maltrapilhos, sujos, sem chapéu, andando devagar e com cara de turminha do mau. O figurinista tomou até o ultra-cuidado de não vestir bota nos paulistas, mas umas sapatilhas de couro toscamente costuradas que eu achei o máximo. (Nessa cena aqui que eu botei pra vocês eles estão de bota, mas na cena da guerra tem até close das sapatilhas toscas.)



Pra quem não conhece a história, Palmares durou um século, mais ou menos. Resisitiu e ganhou todas as batalhas e guerras contra os senhores de engenho e o governo de Pernambuco. Várias expedições foram madadas com o intuito de destruir o quilombo e falharam lindamente. Até que um dia cansaram de ser bonzinhos e mandaram vir o Domingos Jorge Velho, malvado até o último fio de cabelo, que deu conta do trabalho e arrasou a coisa toda, Zumbi e tudo.

Quer dizer, mais ou menos, né? Quando ele consegui vencer a guerra, Palmares já era uma lenda que sobreviveria pra sempre, e, matando Zumbi, ainda deu de quebra pro brasileiro um herói jóia. No próximo feriado do Dia da Consciência Negra (não, ele não serve pra você tomar todas na noite anterior e passar o dia com a consciência negra), 20 de novembro, lembre de Zumbi, é o dia dele. E assista Quilombo, pra celebrar.

Quilombo (1984)
Aventura, 119 min.
Direção: Cacá Diegues
Roteiro: Cacá Diegues
Atores: Antonio Pompeo, Zezé Motta, Vera Fischer, Maurício do Valle, Grande Otelo, Daniel Filho, Jofre Soares

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terça-feira, 25 de maio de 2010

Cara nova

Mudei a cara do Cinema Brazuca!

Eu sei que faz tempo que eu não faço postagem, que eu devia escrever um post novo, e não brincar de pintar e colar com o blog. A explicação é muito simples, e tem nome: fim de semestre. Não estou exatamente tão sem tempo que não possa escrever, a questão é que tenho pensado tanto em outras coisas, de personalidades jurídicas a catarse, que não tenho tido cuca pra escrever sobre cinema. Estou vendo os filminhos, ainda. Já já sai outra crítica inconsequente.

Quanto ao novo visú do Cinema Brazuca, ainda estou testando o esquema de cores e fontes. Se você tiver alguma sugestão ou crítica, por favor, por favor, por favor, deixe um recadinho!

sábado, 1 de maio de 2010

Bruno Barreto - Dona Flor e Miss Simpson


Bruno Barreto dirigiu, além muitos outros filmes, a história da Dona Flor, do Jorge Amado, e da Miss Simpson, do Sérgio Sant'anna (que ganhou outro título no cinema, li por aí, pra que não fosse confundida com o desenho dos Simpsons). Eu vi os dois filmes, quase por acaso, na mesma semana. No domingo à noite a preguiça-mor pedia uma comédia, e eu tinha o Dona Flor e seus dois maridos gravado aqui comigo. Vimos e eu gostei muito. Achei o Bruno um bom diretor. Eu não me impressiono muito com grandes lances artísticos, pelo menos não o tempo todo, o que eu gosto mesmo, volto a dizer, é de uma história bem contada. E Dona Flor e seus dois maridos é bem isso.

Imagino que não tenha sido muito difícil. Dona Flor é uma história muito boa. Não tem como errar. O Jorge Amado deixou metade do trabalho feito para o Bruno Barreto. Mesmo assim, achei o cara bom. Fiquei curiosa, não conseguia me lembrar dos outros filmes que ele tinha feito. Então dei uma buscadinha na internet e descobri que ele tinha feito um outro filme bem-feitinho que tinha me agradado bastante, o Bossa nova.

Agora eu preciso me explicar, porque o Bossa nova é pior que um filme comercial: é um filme pra gringo. Tá inclusive metade na língua deles. Meus escrúpulos anti-imperialistas e meu objetivo brazuca neste jogo não me permitem seguir assim sem me justificar a respeito de Bossa nova. Então vamos.

Bossa nova foi feito sobre um conto de Sérgio Sant'anna, brasileiro, o que já me redime um pouco. É a história de uma Senhorita Simpson, professora de inglês, gringa, moradora do Rio de Janeiro. Além da história estar diretamente ligada à minha, também sou teacher, há que se reconhecer que estudar inglês é uma verdadeira tradição tupiniquim. Quem nunca se viu sentado numa cadeira de escolinha de inglês, mesmo quando preferia estar brincando lá fora? Se não fosse assim, não tinha tanta escola de inglês espalhada por aí. Só na rua do bar que eu frequento tem duas. A gente ali tomando cerveja e comendo croquete e o sujeito na sala de aula, bem na frente, estudando tempos verbais analíticos.

Depois, Bossa nova não é um filme disfarçadamente pra gringo, nem acidentalmente pra gringo. O cara foi lá e fez uma comédia romântica... pra gringo. No Rio de Janeiro. Uai, o que mais tem no Rio além de carioca? - Gringo!
O Rio de Janeiro já foi vendido como estância turística de gringo tantas vezes...

Eu acho Bossa nova um filme ótimo. Ele é redondinho, não falta nada, tudo se encaixa. É uma comédia romântica como poucas. Todos os personagens são bacanas. Tem todo mundo lá: o jogador de futebol, o imigrante, o advogado. A estagiária do advogado, também. Tem o gringo que se apaixona pela brasileira, outro clássico. Tem gente que pratica natação na praia (meu sonho de consumo), igual fazia o Escobar do Machado de Assis, que morreu afogado - só que a Miss Simpson é salva do afogamento. As pessoas vivem se afogando nas praias da Zona Sul por motivo de fazer o enredo andar.

Eu já tinha visto Bossa nova antes de começar a blogar sobre os filmes brasileiros. Mas, depois que eu vi Dona Flor, e quando ainda estava pensando no assunto, eu vi ele passando, por sorte, na tevê a cabo um dia. Já estava na metade. Eu estava assistindo umas três coisas ao mesmo tempo, inclusive Y tu mamá también, que é um dos meus filmes preferidos, mas foi justamente o Bossa nova que prendeu minha atenção. Mesmo o Gael García Bernal sendo muito mais gatinho que o Antônio Fagundes. Tou certa ou tou certa?

Recomendo. Os dois. (Filmes.)

Dona Flor e seus dois maridos (1976)
Comédia, 120 min.
Direção: Bruno Barreto
Roteiro: Bruno Barreto, Eduardo Coutinho e Leopoldo Serran, baseado em livro de Jorge Amado
Atores: Sônia Braga, José Wilker, Mauro Mendonça, Débora Brillanti, Rui Resende


Bossa nova (2000)
Comédia romântica, 90 min.
Direção: Bruno Barreto
Roteiro: Alexandre Machado e Fernada Young, baseado no conto "A senhorita Simpson" de Sérgio Sant'anna
Atores: Amy Irving, Antônio Fagundes, Alexandre Borges, Débora Bloch, Drica Moraes


P.S.: estou aqui quebrando provavelmente uma regra do blogueiro. Apaguei a postagem anterior e substituí por esta. Fiz isso por que toda vez que gosto de uma comédia, me sinto culpada, e me encontro me justificando por ter gostado. O que é besteira. A gente acha que os dramas, as tragédias, os policiais, por serem mais sérios são também mais importantes que a comédia. É um complexo de reflexionismo da vida, que é dura, mas também é engraçada. É difícil pacas fazer alguém rir, e às vezes também é difícil conseguir rir, em algumas situações, mas, olhando para a Sônia Braga, fica muito mais fácil. Tou certa ou tou certa?



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(Bossa nova eu vi em DVD e não consegui achar link pra download. Se alguém tiver, por favor, deixe um comentário!)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Joaquim Pedro aos pedaços - Brasília, contradições de uma cidade nova

 
Ao excluir de seu seio os homens humildes que a construíram e os que ainda hoje a ela acorrem, Brasília encarna o conflito básico da arte brasileira, fora do alcance da maioria do povo. O plano dos arquitetos propôs uma cidade justa, sem discriminações sociais, mas, à medida que o plano se tornava realidade, os problemas cresciam para além das fronteiras urbanas em que se procuravam conter. Na verdade são problemas nacionais, de todas as cidades brasileiras, e nesta, generosamente concebida, se revelam com insurportável clareza.

Hoje meus alunos se perguntaram, em tom de reflexão - não estavam esperando que eu aparecesse com uma resposta - por que é que o dia de Tiradentes é feriado e o dia do descobrimento não. Eu ensino inglês, e embora estivesse longe, muito longe das minhas atribuições, eu achei que eu podia explicar pra eles que, apesar de o noticiário anunciar que hoje o Brasil fez 510 anos, não havia Brasil de que se falasse até 1822. Eles sabiam tudo, quem era Tomás Antônio Gonzaga e porque só mataram o Tiradentes. Da Revolução Pernambucana em 1817, em busca de uma liberdade pernambucana. Da Independência de D. Pedro I e tudo o mais. Mas ainda não tinham operado o dois mais dois do surgimento tardio do país. Expliquei que o Tiradentes foi feito herói da Independência. 21 de abril é feriado nacional. 22 de abril é uma data que tem sorte de ser lembrada.

Por isso também foi o dia 21 de abril, e não o 22, escolhido para ser a data da inauguração de Brasília. O movimento de que Tiradentes é mártir foi o primeiro a levantar a bandeira da instalação da capital do país no interior. A idéia era justamente a oposta que impulsionou a criação de Brasília: queria-se trazer a capital para mais perto da parte mais dinâmica do "país". Na Praça dos Três Poderes, em um daqueles monumentos, não me lembro mais qual (ou então era a inscrição no saguão do Congresso, realmente não me lembro), está escrito que "o sonho de JK" foi concebida pra seguir direitinho a aspiração que tinha o povo brasileiro desde os 1780. Balela.

Em comemoração, portanto, aos 50 anos de Brasília, resolvi assistir Brasília, contradições de uma cidade nova, um documentário de 22 minutos do Joaquim Pedro de Andrade.

Não é necessário mais repetir o que eu acho da qualidade técnica do Joaquim Pedro. Estou agora convencida de que se trata de um dos maiores intelectuais brasileiros.

Brasília foi feito sob a encomenda de uma loja Olivetti, como conta Bernadet, que ficava na (rua) W3. Depois que o filme ficou pronto, a direção da loja já não estava mais disposta a afrontar o governo (1967 foi o ano do recrudescimento da loucura ditatorial militar). O filme quase que não chega a público. Joaquim Pedro chegou a procurar o Niemayer para pedir ajuda, mas ele, cego, se recusou a acreditar na visão pessimista do curta. Uma cópia salvou-se, ficando arquivada no MAM. Com o lançamento do novo DVD do Macunaíma, em 2006, a Filmes do Serro conseguiu lançar esse curta quase inédito, como um dos extras do DVD. (Fonte: Carlos Alberto Mattos, 2007)

Brasília mostra com cuidado as disparidades da cidade como centro de poder político e de exclusão social, contrária em fato a todo o discurso que a cercava, quase sem tocar na questão da ditadura. O que há é uma entrevista com um nordestino trabalhador da construção civil, explicando que "antes" até tinha uma força do sindicato contra os desmandos das três (que eram na verdade uma) empresas construtoras, mas que depois... ele faz uma pausa... que "tudo mudou", a moçada tinha "pegado medo" de participar do sindicato.

Metade do filme é aquela rasgação pela grande maravilha faraônica que é Brasília, e como é moderna! A outra metade foi rodada em Taguatinga, criada pra que o crescimento desorganizado da cidade em função da população real da cidade não interferisse no projeto arquitetônico. Plano piloto para os pilotos. De candango bastam os dois enfiados no meio da praça.


"Os nossos braços foi que teve que derrubar essa mata, fizemos fogo, faziam fogueiras aqui, pra poder conseguir armar os barracos, ficou pessoas aqui no relento, uma época fria, que morreu crianças aqui de frio, e morreu adulto também."

Uma das coisas em que penso quando penso em Brasília é no Darcy Ribeiro falando no prefácio do O povo brasileiro sobre sua participação na fundação da UnB. Quando fundada, Brasília atraiu o fino do pensamento e da arte brasileiros. Eu quase não quero pensar no que ela é hoje, quanto a esse particular, mas no ano em que o Joaquim resolveu fazer o filme, encontrava-se já em triste situação.

A maior parte dos numerosos intelectuais que afluíram para Brasília atraídos pelo vulto do empreendimento humano e artístico deixou a cidade depois que 230 professores se demitiram da universidade, depois da crise ocorrida em 1965.

Não deixem de visitar Brasília, no entanto. Apesar do clima seco, a cidade é sim linda. E vistá-la, vê-la, é esclarecedor.


Brasília, contradições de uma cidade nova (1967)
Documentário, 22 min.
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Roteiro: Joaquim Pedro de Andrade, Luis Saia, Jean-Claude Bernadet
Narração: K.M. Ekstein


Pra quem quiser ver o filme, ele foi incluído entre os extras do DVD novo de Macunaíma. E a Filmes do Serro, produtora dos filmes do Joaquim Pedro, sempre cuidadosa, providenciou fotos e um trecho do filme disponíveis na página do filme, e também o texto do Jean-Claude Bernadet.

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domingo, 11 de abril de 2010

Amor de leproso: Joaquim Pedro aos pedaços Couro de gato

(Ainda por cima, era um pão!)

Graças a uma contribuição providencial de uma amiga (beijos, Mari!!), que me tem fornecido filmes que estão difíceis de encontrar por aí, eu consegui a coleção de curtas do Joaquim Pedro de Andrade, que compreende:

O mestre de Apipucos (1959)
O poeta do castelo (1959)
Couro de gato (1960)
Cinema Novo (1967)
Brasília, contradições de uma cidade nova (1967)
A linguagem da persuasão (1970)
Vereda Tropical (1977)
O Aleijadinho (1978)

O que é muito conveniente, porque a pobre mim mesma não tem mais tempo de nada. Pois é, não tenho duas horas pra sentar no domingo e ver um filme, mas tenho 15 minutinhos pra ir seguindo a coleção de curtas. Joaquim Pedro aos pedaços.

Couro de Gato


"Quando o carnaval se aproxima, os tamborins não têm preço.
Na impossibilidade de melhor material, os tamborins são feitos com couro de gato."

Couro de gato é um curta de 13 minutos, de 1960. É sobre uns meninos da favela que caçam gatos pra fazer deles couro de tamborim, pra vender pro carnaval. Sem quase nenhuma fala, nem narração (exceto por essa frase aí em cima), Couro de gato é uma história muito bem narrada, o que desmerece ainda mais o Cacá Diegues, que em uma hora e meia de Ganga Zumba não conseguiu contar direito a história. Lembram que eu tinha dito que o Cacá não era nenhum Bertolucci? Bom, Joaquim Pedro manda tão bem na câmera dele que não é necessário compará-lo com Bertolucci. Ele é outra coisa, uma coisa só dele.

A história começa com uma cenas dos meninos caçando gatos pela cidade. Dá muito dó dos bichanos, quando a gente vê a cara de ganância com que os moleques olham pra eles, aqueles gatinhos fofos. Roubam o gato pidonho do resturante de bacana, roubam o gato da vózinha no parque, o da madame na mansão... aí eles saem correndo e a bacanada correndo atrás, polícia e tudo. Quando chega no morro, fica todo mundo lá embaixo, a madame mandando o polícia ir atrás dos garotos, mas o polícia fica só olhando pro morro: lá ele não manda nada.

A câmara mostra o olhar de desconsolo dos bacanas e depois os caminho vazios da favela, por onde os meninos tinham subido, e, finalmente, lá de cima, o moleque do gato da madame, com o bichano no colo. Ele senta pra fumar e comer e fica brincando com o gatinho, branquinho, peludo, lindinho, e aquela criança enamorada do bicho. Ele dá um dos biscoitos contadinhos dele (ele é pobre, não tem muita comida) pro gato, mas na hora que chega no último biscoito, ele tem que tomar a decisão.


Tem que ver a tristeza na cara do menino quando ele entrega o gato pro fazedor de tamborins!

Além de tudo, Couro de gato tem como música-tema o samba Quem quiser encontrar amor, do Geraldo Vandré. E todo mundo sabe que eu adoro filme com tema. E a música é linda!

Coisa linda, esse filme, o melhor até agora, mesmo com seus apenas 13 minutos. Vão ver! Tem uns pedacinhos no youtube, aqui.
A menos que você goste muito de gatinho, aí desrecomendo.


Couro de gato (1960)
Drama, 13 min.
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Roteiro: Joaquim Pedro de Andrade
Atores: Francisco de Assis, Riva Nimitz, Henrique César, Napoleão Muniz Freire, Cláudio Correia e Castro, Milton Gonçalves, Domingos de Oliveira, Paulinho, Sebastião, Aylton, Damião

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terça-feira, 6 de abril de 2010

Ganga Zumba


Ganga Zumba, de Cacá Diegues (posso dizer Cacá ou devo dizer Carlos Diegues?), começa com a morte da mãe do Ganga, ou Antônio, no tronco. O que acontece é que antes de ir pro tronco, sabendo que ia bater as botas, ela chama outro escravo, Anoroba, e dá pra ele o colar dos Ganga, pra provar que o filho dela é filho de Zambi, e príncipe de Palmares. Então o Anoroba dá um jeito de avisar lá em Palmares onde o príncipe está - em boa hora, por que o Zambi tinha acabado de perder o herdeiro dele, morto na guerra - e um guia (o moço da foto do cartaz) vem buscar ele na fazenda.
Bom, só aí leva uma hora.

Eu estava meio seca de vontade de ver esse filme, achando que ia rolar umas cenas de guerra, de revolta escrava, ou de Palmares, ou alguma coisa, mas na verdade eles nem chegam a alcançar Palmares. O filme acaba antes.

Esse filme é da fase que o Cacá Diegues trabalhava com Cinema Novo, antes de "cuspir no prato em que se fez", como disse o Glauber, e se dedicar ao cinema comercial. (No que eu, pessoalmente, não vejo mal nenhum, adorei Xica da Silva.) Uma vantagem que filme do Cacá no Cinema Novo tem sobre a fase comercial é que tem bem menos sexo. De resto o filme é meio lento, tem umas imagens que ficam vários segundos na tela e você fica meio sem saber porque - o Cacá Diegues não é exatamente o Bertolucci, saca? Tem também umas cenas sobrando, sem razão de ser, e apesar disso a história não está perfeitamente narrada, eu e meu namorado ficamos confusos várias vezes, se perguntando "você entendeu o que aconteceu? porque ele falou isso pra ela? quem é esse cara? de onde veio esse outro cara?" e tecéteras.

Então a economia do "texto" não agradou a mim. Grande novidade. Mas não fica aí, no todo o filme é bacana. A história vale a pena ser vista - desde que você não se deixe levar pela esperança de ver batalhas (o Cacá não é muito bom em conduzir cenas de luta, mesmo dispondo de capoeiras finos) ou ser transportado pra dentro do universo de Palmares (eu sei que você tem curiosidade de "ver" esse lugar lendário tanto quanto eu). Mas enfim, a gente aprende uma porção de coisa sobre a realeza palmarense que não se aprende na escola nem em livro do Darcy Ribeiro. E tem o elenco. E tem a música.

Nara Leão.

Sacou?

Uma tristeza que a cópia que eu descolei estivesse tão acabadinha. Mas imagina, o moço faz o filme 50 anos atrás, com a tecnologia que eles tinham lá, aí ele fica apodrecendo no rolo um tempo, aí alguém troca de suporte, passa na televisão, alguém captura essa imagem (tem o selinho do Canal Brasil no canto superior esquerdo), tranforma em data de computador, eu baixo aqui, gravo no DVD em alta velocidade, aí, meu, não tem cópia que aguente, né? Tinha chiado, diversas vezes a tela ficou muito clara ou muito escura (filme P&B) e não dava pra ver nada. Uma grande tristeza mesmo. Acho que eu seria menos chata com o filme se tivesse podido ver ele em todo seu esplendor. Três vivas pro esforço de recuperação dos filmes antigos da Cinemateca Brasileira.

Enfim, flertei um pouco com Cacá Diegues, mas, no que toca o Cinema Novo, ainda torço mais pro time do Joaquim Pedro, até agora.


Ganga Zumba (1964)
Drama, 92 min.
Direção: Cacá Diegues
Roteiro: Cacá Diegues, Leopoldo Serran e Rubem Rocha Filho
Atores: Antônio Pitanga, Léa Garcia, Elizer Gomes, Luiza Maranhão, Jorge Coutinho

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sábado, 3 de abril de 2010

Meteorango Kid - herói intergalático



Com 85 minutos de duração, Meteorango Kid não é exatamente um longa-metragem. Ele não tem aquela unidade romanesca que se espera de um longa, ele é mais uma catada de esquetes alucinados, uns divertidos, outros não.

O que une a(s) história(s) de Meteorango Kid é o personagem principal, Lula, um bicho-grilo apaixonado pela própria cabelereira. (Eu ri muito da cena que ele entra na farmácia e compra um shampoo. E só.) O filme foi feito em 1969, no meio da ditadura militar, e dizem os especialistas que é uma oposição ao regime. Eu não vi. Eu vi o Lula entrar na UFBA e ignorar uma reunião de estudantes politizados que mais me pareceu o chá que a Alice toma com o Chapeleiro Louco e a Lebre Maluca. Eu vi muita tropicália e muita vontade de fazer cinema brasileiro. Vi um cartaz do O padre e a moça do Joaquim Pedro em cima da cama do Lula. Vi citações textuais de O bandido da luz vermelha do Sganzerla. Vi o contador de vantagens - "o papo mais manjado da Bahia" - dizer que tinha sido convidado pra trabalhar com o Gláuber.

Às vezes a gente perde a dimensão de quanto as coisas são antigas. Só pra ter uma idéia, quando Meteorango Kid foi feito, o Raul Seixas ainda morava na Bahia e tocava com Raulzito e os Panteras. O presidente Lula, há que se desfazer o engano de qualquer ligação por causa do nome, ainda não era líder sindicalista e tinha todos os dez dedos das mãos.

O Lula é o cara mais popular da faculdade, é o moço que atrai os olhares das mocinhas no ônibus por causa da cabeleira, é o rebelde que enfia o dedo no nariz e fuma maconha na sala de jantar com os pais, é o bandido da luz vermelha, é o batman, é o tarzan e é pirata. Ele é um herói. Até aí eu entendi. Tinha aquela coisa do cinema americano de filme de superherói, lembra? Então, o André Luiz Oliveira quis fazer o dele também.

Tinha também alguma coisa estranha acontececendo na época com discos voadores, que apareceu no filme do Rogério Sganzerla e apareceu nesse aqui também, e o Lula vai com uma repórter até uma aldeia de pescadores pra entrevistar os locais sobre o aparecimentos dos OVNIs, e acabam encontrando um gringo esquisito que diz adorar a natureza do Brasil. É, eu sei. Não faz muito sentido mesmo.
De qualquer maneira, daí o "intergalático".

O filme é um clássico do cinema marginal, ganhou o prêmio do público do Festival de Brasília (Candango!!!), não é qualquer coisa. Mas me lembrou os filmes que o Corvo fazia na época da faculdade, sem pé nem cabeça, só pra gente se divertir. Meu comentário quadrado, lá pela hora e dez do filme, foi "os caras ficam fumando maconha na Bahia e cinquenta anos depois a gente tem que assistir o filme deles..."



Meteorango Kid - herói intergalático (1969)
Ficção, 85 min.
Direção: André Luiz Oliveira
Roteiro: André Luiz Oliveira
Atores: Antônio Luis Martins, Milton Gaúcho, Nilda Spenser, Manuel Costa Jr. Caveirinha, José Vieira, Carlos Bastos, Ana Lúcia Oliveira, Adelina Marta




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sábado, 27 de março de 2010

O vanguardoso e o comercial: reflexão sobre minhas expectativas do cinema brasileiro



Fiz um esforço pra ver um filme estranho, que já estava na hora. Na minha modesta porém interessante coleção de filmes brazucas, tem um monte dos esquisitos, mas eu andava resistente em assistir. Isso porque tenho a posição mais peculiar em relação ao cinema, que se estende ao teatro. Eu não gosto de coisas fáceis, mas também não gosto de supervanguardoso. Não me interesso por experimentação. Gosto que experimentem e depois me mostrem o resultado, o que foi apredido e revolucionado com a experimentação. E daí passo minha opinião inconsequente...

Mas espera-se que eu possa avanaçar nesse sentido, e deixar de ser uma quadradona. A proposta do ano do cinema brazuca é, entre outras coisas, de abrir minha cabeça pra outras experiência cinematográficas, saca? Então fui lá, apaguei a luz e dei o play pra O bandido da luz vermelha. Trata-se de um filme preto-e-branco de 1968 que conta a história de João Acácio Pereira da Costa, um bandidão que andou aterrorizando São Paulo nos anos 1960, malvadão e cheio de personalidade. Sendo vanguardoso, o filme é barulhento, cheio de efeitos sonoros esquisitos. (Já perceberam como o experimentalismo na arte gosta de deixar a gente desconfortável? Se não der vontade de virar as costas e ir embora, não é vanguardoso o suficiente. Aí o apreciador tem que mostrar que tem estômago, tem que provar que não é um burguês com apetite cultural formatado pelo mainstream, e com isso ganha o prazer de sair da sala de cinema, do teatro ou da Bienal de São Paulo se sentindo um herói dos sentidos perceptivos. (Eu mesma uma heroína, que já enfrentei o desafio da música dodecafônica em algumas repúblicas onde morei. Não é tão incômodo quanto funk carioca.)) A narração do filme é feita por duas vozes, um homem e uma mulher, que ficam completando as frases um do outros, ou fazendo jogos entre eles. Tive a impressão de que as frases ditas pela narração eram manchetes de jornal da época, as coisas mais absurdas, que iam de medo do comunismo a discos voadores. Boa sacada, curti. Foram os efeitos sonoros que me incomodaram mais. Não gosto de barulho.

Lembram das aulas de Literatura na escola, que no Modernismo tinha uma revista de literatura chamada Klaxon? Pois bem, klaxon significa buzina, em francês. Mesmo. Aí era uma coisa supernova, pra frentex essa coisa de buzina, né? Automóvel, velocidade, barulho... a modernidade, certo?

Meio ultrapassado, não acham? Que o vanguardoso seja barulhento? E em 12 anos já vamos comemorar um século da Semana de 1922.

Minha opinião inconsequente...

O que me incomoda um pouco é que a coisa de cinema brasileiro seja meio... como dizer para não chocar Glauber Rocha?... amadora. Ou é redondamente ruim, como as comédias da Globo Filmes e da Warner Brasil, mesmo eu tendo dado risada de A mulher invisível, ou é experimental, vanguardoso, diferentão, marginal. Tomem por exemplo o Cinema Novo. O Glauber é tão controverso que eu tinha um camarada da USP que dizia saber quando estava bêbado porque o mundo começava a ficar parecido com um filme do Glauber Rocha. O Anselmo Duarte só levou a Palma de Ouro por que fez um filme pra agradar a gringaiada. O Joaquim Pedro é bom. É bem bom. Mas é isso que se tem pra mostar como melhor? Eu acho pouco.

O cinema brasileiro está parado no tempo. Eu não sou a primeira pessoa a dizer isso, tem aí embaixo um vídeo do Glauber falando a mesma coisa. Acho uma grande falácia chamar a retomada, com o Carlota Joaquina da Carla Camurati, de "renascimento do cinema brasileiro". O Cinema Novo foi qualquer coisa de fantástico, mas o amadurecimento do cinema nacional parou ali. Tomando-o como ponto de partida para arte do cinema no Brasil, era pra gente estar fazendo maravilhas! O que foi que aconteceu? A pergunta não é retórica, o que foi que aconteceu? Onde está o problema? É no público? É na produção? É o imperialismo capitalista que transformou a cultura em mercado de massa? Novamente, minhas perguntas não são retóricas.




Salve geral. Eu vi Salve geral logo depois de O bandido da luz vermelha. Coisa fina, o filme. História bacana, personagens interessantes, bons atores, filme bem-feito etc etc etc. E o melhor, apesar de ser um filme sobre violência - como, no Brasil, não se fazer arte sobre violência?, seria fechar os olhos e lavar as mãos - mas não tinha aquela apologia estranha, embora divertida, de que a violência é uma brasilidade, como em Tropa de elite e Cidade de Deus (que são dois filmes que me agradam muito).

Salve geral queria o Oscar de melhor filme estrangeiro. E daí aconteceu o quê? O que não pode acontecer em Copa do Mundo: perdemos pros Argentinos. Como isso pôde acontecer? Babys, vocês têm visto o que os hermanos estão fazendo do lado de lá? Isso no meio da puta zona que tá a terra deles, os caras ainda têm tempo de identificar um bom roteiro, uma boa proposta, sentar e filmar o troço todo com calma. Tem saído um filme mais bacana que o outro, lá. Coisas simples, cheias de qualidade. Nada do outro mundo. Vi um filminho num canal Tele Cine outro dia, de madrugada, nem peguei o nome do filme. Era uma história sobre paternidade, sobre um moço que tinha acabado de virar pai (um molequinho de 3 ou 4 anos) e que tinha a mesma profissão do pai dele. Aí o vovô morre. Simples assim. Muito bacana.

Como balanço geral de Salve geral, ele é um filme simples e muito bom. Meu tipo de coisa. Bom, não dá pra colocar na categoria dos meus filmes preferidos, ainda tou pra ver filme brasileiro na mesma ordem de grandeza de Dr. Strangelove ou The godfather (o que muito me entristece, mas que me incomoda mais é que parece que os hermanos vão chegar lá antes da gente. Qualé que é, brazucada? Não pode deixar não!). Salve geral tem uma coisa que eu gosto muito: ele tem um tema. Adoro trilha sonora com tema. Achei o roteiro inteligente e sensível. No todo, o filme me impressionou bem.

Mas... Oscar? Vamos comparar por um segundo Salve geral com Onde os fracos não têm vez (No country for old men), melhor filme de 2008. Ainda tem muito o que avançar, em termos de cinema "comercial" brasileiro, não tem não?



O bandido da luz vermelha (1968)
Policial, 92 min.
Direção: Rogério Sganzerla
Roteiro: Rogério Sganzerla
Atores: Paulo Vilaça, Helena Ignez, Sérgio Hingst, Luiz Linhares, Sônia Braga, Ítala Nandi, Hélio Aguiar (narração) e outros.


Salve geral (2009)
Drama, 120 min.
Direção: Sérgio Rezende
Roteiro: Sérgio Rezende e Patrícia Andrade
Atores: Andréa Beltrão, Denise Weinberg, Lee Thalor, Bruno Perillo, Guilherme Sant'Anna, Cris Couto e outros.


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