domingo, 17 de outubro de 2010

Lição de amor



A trasitividade do verbo está relacionada à suficiência do seu significado. Assim, se eu digo "corro", "morreu", "nasci", esses verbos já comunicam todo o significado que eu desejava expressar, e por isso não precisam de complementação (os mal afamados objetos diretos ou indiretos). Se, ao contrário, eu digo "gosto", isso não expressa nada. É preciso que eu diga do que eu gosto. Eu gosto de cinema brasileiro, eu não gosto do PSDB. A mesma coisa para dizer "eu amo". Quem? O que? Para se amar é necessário um complemento.

Menos para Fraulein, em Lição de amor, filme de Eduardo Escorel baseado no romance Amar, verbo intrasitivo de Mário de Andrade. Fraulein ama. Até com advérbios: profundamente, corretamente, brevemente. Mas como os complementos são irrelevantes, Carlos, Plínio, Eduardo, é mesmo como se não existissem.

O trabalho de Fraulein é ensinar os meninos e meninas das boas famílias paulistanas a falar alemão e tocar piano. E aos meninos, exclusivamente, a amar, de forma a mantê-los longe dos prostíbulos, protegidos da sífilis e da morfina, para que possam se casar bem e serem felizes. A tragédia é a impossibilidade da felicidade da própria Fraulein. Isso depende do fim da guerra, de ela ter dinheiro suficiente pra voltar pra Alemanha (mais um ou dois trabalhos...), de lá encontrar um marido etc.

Assisti Lição de amor por indicação de Grande Otelo, naquela entrevista para o Roda Viva de 1987 de que eu falei num post anterior. Acho que posso entender porque o Otelo gostou do filme. É um filme extremamente competente. Não tem rasgos de genialidade glauberiana (controversa), mas também não tem nada de medíocre (Globo Filmes), de pitoresco (Zé Mojica) ou de brasilianismo exótico (Anselmo Duarte). É simplesmente cinema, e bom cinema. O festival de Gramado concedeu três Kikitos, pra melhores diretor, atriz e trilha sonora. E, com história do Mário de Andrade, bom, que mais recomendação você quer pra ver esse filme?


Lição de amor (1975)
Drama, 80 min.
Direção: Eduardo Escorel
Roteiro: Eduardo Coutinho e Eduardo Escorel, baseado em livro de Mário de Andrade
Atores: Lílian Lemmertz, Rogério Fróes, Irene Ravache, Marcos Taquechel



Obs: o som está mais adiantado que o vídeo. Para consertar, li em outro site que dá pra fazer no Windows Media Player Classic, aumentando o ms para + 3500 (o que quer que isso signifique).


6 comentários:

  1. Ôi, Teresa, tudo bem?

    O blogue está ótimo, mas são poucos os internautas que procuram apenas comentários sobre os filmes.

    Por que você não faz uma parceria com blogues que oferecem os links para se baixar os filmes que você aborda, de forma a prestar mais este serviço a seus leitores?

    Eis dois ótimos:
    http://acervonacional.blogspot.com/
    http://www.almascorsarias.com.br/

    Tenho a certeza de que este pequeno acréscimo lhe traria uma quantidade muito maior de visitantes.

    Um abração!

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  2. Celso, já esou aproveitando sua dica!
    Tié, volta!!!
    Bjs

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  3. volti! e com links de espírito corsário! yo-ho-ho e uma garrafa de rum!

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    1. Que isso hein Gangplank!! kkk eu conheço essa fala

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  4. Olá, não estou conseguindo baixar esse arquivo, diz que a página não foi encontrada.. Será que alguém poderia postar novamente, por favor?? Agradeço desde já

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    1. oi Ricardo

      eu tive o maior trabalhão pra colocar o links todos que eu pudesse encontrar aqui, mas aí o FBI veio e acabou com tudo quando ele tiraram o megaupload do ar, há poucos meses, lembra? não foi o meu blog que ficou capenga não, muita gente com acervo fino rodou.

      lo siento!

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