domingo, 15 de maio de 2011

Terra em transe



Senhoras e senhores, meu primeiro Glauber. Agora sim posso ostentar com propriedade a foto do bocudo aí em cima no título do blog.

Eu francamente não estava entendendo muita coisa do filme. Mal-e-mal o suficiente para acompanhar o enredo. Pensei então que depois do segundo ou terceiro Glauber eu pegava o jeito da coisa e ia entendo, mas depois pensei também que a arte não deve ser um estudo. Um filme deve ser suficiente pra falar por ele, não deve ser parte de uma obra pra fazer sentido, como o capítulo 16 depende do capítulo 15 no meu Curso de Direito Civil.
Abri meu coraçãozinho e encarei o filme.

Terra em transe é a história de um sujeito politicamente desajustado. Ele surge sob as asas de um figurão, pede pra se libertar dele, acaba no lado do outro figurão, esse uma pegada mais PT, se decepciona, larga tudo pra beber, é requisitado pra voltar, desmonta e fode a coisa toda pra todo mundo. Ai o primeiro figurão é eleito presidente, e o camarada desajustado é traído, assassinado, vencido.

Ele não é moral, ele não é heroico, ele não gosta de figurão, nem de burguês, nem de povo. Ele está tão perdido quanto eu ou você, mas a diferença é que ele está envolvido, na coisa toda, até o pescoço.

O país metafórico do filme (será que usei a figura de linguagem certa?) chama-se Eldorado, que é mencionado em outros filmes do Glauber (ouvi falar), e me lembrou um pouco Cartas chilenas, do Tomás Antônio Gonzaga. Ele escreve sobre os abusos de um governador no Chile que lembra muito, estranhamente, o governador de Minas Gerais na época da derrama, às vesperas da Revolução Mineira, que deu merda e acabou virando a Inconfidência Mineira. E é assim, com metáforas, simbolismos e meio artístico elitizado (trabalhado e trabalhoso), que se escapada da censura. Entenderam?

Eu consegui entender, com esse primeiro filme, por que é que o Glauber se auto-afirmava, aos gritos, tanto como um grande gênio do cinema brasileiro. E entendi também por que é que tão pouca gente concordava. O camarada não é fácil. Mas a pipoca apimentada me manteve desperta.

Ademais, agora quebrei o encanto. Posso ver os outros filmes do Glauber sem receio, e acredito que até mesmo um Tarkóvski. Quem sabe, com treino, consigo até ficar acordada um filme inteiro do David Lynch!

Terra em transe (1967)
Drama, 107 min.
Direção: Glauber Rocha
Roteiro: Glauber Rocha
Atores: Jardel Filho, Paulo Autran, José Lewgoy, Glauce Rocha, Paulo Gracindo, Hugo Carvana, Danuza Leão, Jofre Soares, Modesto de Sousa, Mário Lago, Flávio Migliaccio, Telma Reston, José Marinho, Francisco Milani, Paulo César Pereio, Emanuel Cavalcanti, Zózimo Bulbul, Antonio Câmera, Echio Reis, Maurício do Valle, Rafael de Carvalho, Ivan de Souza


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Um comentário:

  1. Cê sabe que sou sua fã número um, certo? Venho antes de sua mamacita e do Paizinho... :-)

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