domingo, 31 de janeiro de 2010

O ano em que meus pais saíram de férias



Eu já tinha meio um pé atrás, porque a ditadura militar, para a arte brasileira, é meio como a Segunda Guerra para o cinema americano. Ninguém aguenta mais tanta apelação, falseamento histórico, cenas violentas de mau gosto e monotonia temática. Mas eu pensei em Machuca e achei que ia ser uma boa idéia, ver a ditadura pelos olhos de um personagem criança. Me arrependi logo nos letreiros iniciais do filme quando vi a informação "co-produção Globo Filmes". Mas o filme foi alugado, estávamos aproveitando o domingo à noite e vi o filme todo. Mais uns pouquinhos minutos e apareceu a segunda ligação com os filmes americanos de Segunda Guerra: judeus. Por algum motivo, no prédio do menino todo mundo é judeu. Fica no Bom Retiro, em São Paulo, o prédio.

Se tivesse algum motivo especial para os personagens, paulistanos, serem judeus, não seria um problema. Mas as únicas justificativas possíveis estão fora da história. Talvez a história seja real, e o menino era mesmo filho de judeu não-praticante. Talvez o roteirista fosse judeu. Talvez o Bom Retiro tivesse sido um reduto judeu nos anos 70. Quem sabe?

Pontas soltas em toda parte. O Schlomo fica horrorizado de ver que o menino não é circuncisado. E só. Nada desenvolve desse fato. O menino é ligado, pela comunidade, à história do bebê Moisés, colocado numa cesta e solto no rio Nilo para escapar dos egípicios. Porquê? O máximo que rende dessa história é uma piada não contada sobre o Schlomo ser a filha do faraó, na comparação. Ha-ha.

Vejam bem, não é que o filme seja ruim. Mas eu me sinto como se tivesse desperdiçado o tempo de ver um filme. Eu me diverti muito mais com o filme da Xuxa, apesar de todos os seus pesares. A gente fica achando que o filme vai falar sobre a ditadura, que o menino vai aprender sobre política, sobre violência, sobre diferenças... sobre suas origens judaicas, que fosse. Nada. É um menino maluquinho com uma mãe que volta pra casa espancada. Apelação a um momento sério da história para vender um filme sobre a Copa de 70. A grande revelação do menino é que ele quer mesmo é ser goleiro. Não percam seu tempo. Vale mais a pena passar seu domingo à noite assistindo a reprise do programa do Jô Soares na tevê a cabo.


O ano em que meus pais saíram de férias (2006)
Drama, 110 min.
Direção: Cao Hamburguer
Roteiro: Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger, baseado em história original de Cláudio Galperin e Cao Hamburger
Atores: Michel Joelsas, Germano Haiut, Daniela Piepszyk, Caio Blat, Paulo Autran

E se a idéia for dar filme pras crianças, apostem no outro Cao Hamburguer, Castelo rá-tim-bum.


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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O padre e a moça


Semana cheia, por isso postagem tão demorada. Para coroar uma semana dessa, resolvi assistir finalmente um dos filmes que eu estava mais curiosa para ver, O padre e a moça. Demorei tanto por que não achava companhia. Meu namorado geralmente escapa estrategicamente pela esquerda quando proponho assistir a um filme. Pela esquerda mesmo, da última vez em que propus um filme brazuca, ele preferiu ver Tarkovsky.
Depois desta exposição pública, também, aposto que ele não vai mais tentar escapar das minha sessões pipoca-not-popcorn.

O padre e a moça, de 1965, é uma criação de Joaquim Pedro de Andrade - que eu suspeitava ser o grande artista do Cinema Novo um pouco por intuição, um pouco por já ter ouvido falar e ter visto uns pedacinhos do Mestre de Apipucos na tevê a cabo - baseada num poema de Carlos Drummond de Andrade de 1962. O poema é longuíssimo, por isso, ao invés de copiar ele aqui, ofereço o link. Ainda não li, assim como não li o comentário do próprio Drummond ao filme nem os ensaios publicados numa revista de cinema (o número 42 é dedicado ao filme - site com frames, cliquem em "artigos", se interessados, e escolham), todos encontrados enquanto procurava para vocês o poema, e todos arquivados no site da Filmes do Serro, a produtora de O padre e a moça.








Não li porque ainda não quero contaminar minha própria leitura do filme. Um filme é um filme e deve ser visto como tal. Assim como às vezes a gente quer ler o livro antes de ver o filme (como eu estou esperando para fazer com Um certo capitão Rodrigo (adoro Érico Veríssimo), nas próximas férias), às vezes devemos ver o filme.

O filme começa e eu estranho: ué, mas parece tão simples! Bonitinho, bem-feito, a câmera comportada, o enredo verossímel, nada como os pedaços que eu já vi do Glauber Rocha. Eu me sento então, e vejo, e vou aos poucos percebendo algumas coisas. Como a trilha sonora, feita de muito pouca música e de sons de grilo, pássaros que eu não conheço o nome, tic-tacs de relógio... Conforme o filme se desenrola eu vou vendo. O tempo cronológico é quase irrelevante. Não sei quanto tempo leva entre a chegada do padre novo e o rapto da moça, por exemplo. As cenas se seguem pela seqüencia lógica da história.

Outra coisa é que o filme é todo estruturado de forma circular. Por exemplo, há uma cena em que a moça serve um copo de cachaça para o farmacêutico, e a cena corta para um flashback (uma cena de sexo - ui! - muito bem comportada), e depois ela volta exatamente para a mesma imagem do farmacêutico tomando pinga com o chapéu pendurado do lado. O mesmo acontece na cena de amor entre o padre e a moça. E, finalmente, o padre, depois de fugir com a moça algum tempo pela Serra do Espinhaço, volta para a cidadezinha.

Deveria dizer, volta para a Igreja. Entra atordoado na capela e dorme chorando no chão do altar. Pensei muito em mim mesma com o meu próprio drama de eterno retorno institucional. Eu me identifiquei e fiquei com dó do padre e com raiva de mim, quando o certo era ter se identificado, ficado com raiva do padre ("Porque ele não vai em frente com a coisa? Será que ele não vê que a moça gosta dele?") e ter "operado a catarse própria dessas emoções", como coloca Aristóteles.


O padre e a moça (1965)
Drama, 95 min.
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Roteiro: Joaquim Pedro de Andrade
Atores: Helena Ignêz, Paulo José, Fauzi Arap, Mário Lago, moradores de São Gonçalo do Rio das Pedras

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O padre e a moça

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Fazendo efeito

Essa temporada de filmes brazucas mal começou e já tá fazendo efeito. Esta noite sonhei com os trapalhões... Sonhei que tava vendo um filme, e lá pelo fim apareceram os trapalhões e eu fiz: "Nossa! Os trapalhões?!"
Vai entender...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Gláuber Rocha no Programa Abertura

 
Achei! Achei! Aquele vídeo de que eu falei no primeiro post, que foi o Goiano que levou lá em casa, que o guarde Deus, com o Glauber Rocha botando a boca no trombone.
Bom, achei uns pedaços...

Trata-se do Programa Abertura da TV Tupi, de que o Glauber participava. Deve ter durado algum tempo, porque em um dos trechos ele fala do "presidente Geisel" e em outro do "presidente Figueiredo", i.e. fins dos anos 70, começo dos 80. Um dos problemas dessa coisa de internet e youtube é que a informação tá sim toda lá, mas completamente desorganizada. Não tem nem mesmo as datas dos trechos. Vou fazer uma campanha pro youtube contratar um time de bibliotecários.

Não achei a melhor parte, a que ele fica mais nervoso e grita muito, cita Euclides da Cunha e acaba com todo mundo. Mas aqui tem uma amostra. Ele acaba com a pseudointelectualidade carioca, com o Cacá Diegues, com o Franco Zefirelli, com a Embrafilmes e com o cinema americano. E olha que aqui só tem uns dez minutos.

Aí tem. Os links, umas citações e minhas observações também, porque a gente tem que assumir a própria capacidade crítica em temas de cultura brasileira. :-)
Se ele pode, eu também já me joguei.

"ENTREVISTA" COM SEVERINO


(O pobre Severino mal falou, só ficou lá enfeitando a cena do Glauber. Eu vi em outros trechos que o Severino tá sempre lá, e nunca fala, o Glauber menciona que a galera reclama que ele nunca fala. Parece mais que ele é assim uma espécie de Zina do quadro do Glauber no Abertura. Eu não achei essa cena, mas da primeira vez que vi esse vídeo lembro distintamente do Glauber dizendo: "O sertanejo é antes de tudo um forte, não é como os brancos neurastênicos do litoral", apontando o Severino. Lembro disso porque até ano passado eu achava que essa frase era dele mesmo. Não é. É do Euclides da Cunha. E o Severino só entrou de gaiato na cultura brasileira.)

"Franco Zeffireli, que é um aventureiro, que veio aqui e recebeu bilhões pra montar a La Traviatta (...) humilhando, inclusive, a burguesia pseudo-culta do Rio de Janeiro, que engoliu gato por lebre, porque o Zefirelli é um diretor de segunda classe."

"A gente tem realmente de assumir a sua própria proporção dentro do espaço cultural."

Obs.: Não acho que o Glauber tenha lido "intensamente" o Zé de Alencar como ele sugere aos brasileiros analfabetos que façam, porque, se tivesse lido, teria percebido que os romances são todos variações dos mesmos dois ou três temas básicos. Mas, sim, o ensino de Português no Brasil é uma catástrofe e se deveria reformar o ensino de literatura no pais, mas com menos Zé de Alencar e mais Lúcio Cardoso.

SOBRE CINEMA


"O cinema brasileiro não tem uma estrutura industrial, o cinema brasileiro é realizado por amadores ou por profissionais improvisados, por empresários que pegam dinheiro em banco com juros, de forma que é uma coisa artesanal."

"O cinema estrangeiro, que já chega aqui pago, sobretudo os filmes americanos, esse cinema estrangeiro quer o baixo preço [das entradas], porque o que ele busca na verdade é a penetração cultural, é o domínio ideológico do mercado, do público brasileiro. (...) Porque inclusive a vanguarda da intelectualidade brasileira é colonizada."

"O movimento do Cinema Novo, que era um movimento internacionalmente importante nos anos 60 e 70 e que criou o cinema brasileiro, esse movimento do Cinema Novo foi destruído por vários porretes (...) importantes cineastas brasileiros que se entregam à pornochanchada ou ao subcinema comercial (...) e falam mal do cinema novo, prato no qual comeram e se fizeram"

Detalhe: o Glauber está falando sobre um fundo com fotos da Zezé Motta e da Elke Maravilha.
Conclusão 1: ele está falando diretamente do Cacá Diegues.
Conclusão 2: parece que o filme de que eu mais gostei até agora é classificado como subcinema comercial por ele. Ah... fazer o quê? Pelo menos não tem superherói nos meus subfilmes comerciais. E já estabelecemos que o premiadíssimo Pagador de promessas, mesmo não sendo subcinema comercial, foi feito pra impressionar a gringaiada nas Oropa.

"Dediquei 20 anos da minha vida ao cinema brasileiro, sou um dos principais artistas da Embrafilmes, realizei alguns filmes brasileiros de repercussão internacional e me encontro no Brasil marginalizado."

"O cinema é a mais importante de todas as artes."


Se você for lá no youtube vai achar mais alguns trechos do Abertura com e sem o Glauber, mas eu acho que separei os dois mais interessantes.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Xica da Silva


Eu curti esse filme desde o primeiro minuto, com aqueles moços de figurino de século XVIII tocando música erudita no meio da paisagem mineira enorme. Adorei o personagem que aparecia logo depois do concerto, o Teodoro, chefe dos bandidos que exploravam diamante sem consentimento da coroa. Adorei levarem o cavalo do Comendadador João Fernandes e botarem ele pra entrar no Arraial do Tijuco de burrico. Arraial do Tijuco, cidade onde viveu a Xica, é a atual Diamantina.

O elenco também tá muito bacana. Eu tinha visto que o Zé Wilker estava no filme, mas 1976 já faz muito tempo, e eu só conseguir reconhecer ele na hora que ele tirou a peruca. A Zezé Motta ganhou o Candango de melhor atriz no Festival de Brasília daquele ano, que deu o de melhor filme para o Xica da Silva também. Zezé Motta estava poderosa. Recomendo particularmente a cena de dança que ela faz quase no fim do filme. Agora, bacana mesmo foi a Elke Maravilha, linda, linda, linda. É coisa de se ver.



Vocês não me creram, né? Elke Maravilha linda...

Ainda na cena do concerto na estrada, lá pelo terceiro minuto do filme, o Cacá Diegues dá sua cutucadinha na ditadura. Ele põe um dos músicos bem de frente pra câmera, sorrindo, se desculpando pela indiscrição do colega, que tinha feito fofoca sobre a corrupção do lugar, dizendo que eles são apenas artistas e que não têm nada que dizer do caso. Então o ator para de sorrir, encara a câmera e, muito sério, declara "Os artistas não devem se meter em política. Não é mesmo?"

Metem também um pouco de Inconfidência na história, sendo o Tiradentes um preferido generalizado. Agradava do Marechal Deodoro até eu mesma, passando por Boal e Guarnieri. Um dos meninos brancos da história se manda pra Vila Rica pra lutar contra os portugueses que roubam o país e no fim precisa ser escondido no Convento dos Pretos que a Xica da Silva tinha mandado construir.

O filme tem muita nudez e um pouco daquela comédia meio novela das sete que prenuncia a Globo Filmes, mas mesmo assim é o melhor que eu vi até agora. Eu também dava dois Candagos por ele.


Xica da Silva (1976)
Comédia, 117 min.
Direção: Cacá Diegues
Roteiro: Cacá Diegues e João Felício dos Santos
Atores: Zezé Motta, Walmor Chagas, Altair Lima, Elke Maravilha, Estepan Nercessian, Rodolfo Arena, José Wilker, Marcos Vinícius e outros


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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Dois perdidos numa noite suja

Dois perdidos numa noite suja é um filme baseado na famosa peça de Plínio Marcos, escrita em 1966. Para quem não conhece, é bom avisar de que se trata. O Plínio é barra pesada. As peças dele estão cheias de violência, escatologia e más pessoas (tanto no sentido de más companhias (putas viciados &c.) quanto no sentido de com maus sentimentos). Meu namorado não conhecia. Ele ficou meio chocado no começo, mas logo se acostumou com a pegada do filme.




Eu não conhecia o diretor (José Joffily), Roberto Bomtempo (Tonho) não me dizia nada e não vou com a cara da Débora Falabella (Paco). Fiquei curiosa para ver o filme pelos seguintes motivos. Em primeiro lugar, a gente raramente tem a chance de ver as peças antigas preferidas montadas, geralmente tem que se virar com o texto e a imaginação mesmo. O filme tem essa vantagem, ele pode não ter aquela energia da presença dos atores ou a vibração da platéia ou todas aqueles pequenos rituais que o teatro tem, mas ele está lá, feito por um diretor profissional (minha imaginação é boa mas não é profissional), convenientemente disponível pra quando você puder.

Outro motivo para ter escolhido Dois perdidos foi que, você já notou como um bom texto teatral é geralmente melhor que um bom roteiro de cinema? É porque com o cinema você tem todos aqueles recursos, trilha sonora, troca de cenários, zoom &c., com o teatro não. Você tem que se virar com o palco e a meia dúzia de atores. O texto tem que segurar tudo. Então, quando o dramaturgo consegue, ele consegue. E o Plínio Marcos manadava ver.

Eu vou amanhã mesmo na biblioteca pra ler o texto do Plínio. Quero ver como foi que ele resolveu os problemas que para o cineasta foram com certeza muito mais tranquilos de resolver. Por exemplo, para mostrar que a amizade de Paco e Tonho estava aumentando, ele colocou umas cenas deles dois passeando pelas ruas com uma musiquinha de fundo. Pronto. Ou então, a primeira metade da história se passa no verão, e a segunda no inverno. A história fica mudando entre esses dois momentos, verão e inverno, pra frente e pra trás. O cineasta tinha a vantagem de simplesmente trocar o figurino, agora, quando você tem dois atores no palco e só, você não pode ficar tirando eles de lá pra trocar de roupa, certo?
Como foi que o Plínio fez?


Dois perdidos no palco, no espetáculo de fevereiro em Belo Horizonte.

Por outro lado, os cortes de cena, que parecem ser uma vantagem à primeira vista, podem trazer problemas para o funcionamento da história. A narrativa perde a tensão. Quando o Tonho bate em Paco pela segunda vez e pela segunda vez ela grita "Não me chama de Rita", na tela ficou repetitivo. Só.

Tem um outro filme baseado em peça de teatro na lista, que é o Eles não usam black-tie, de um outro dos meus dramaturgos brasileiros preferidos, o Gianfrancesco Guarnieri. Na verdade era esse filme que a gente tinha combinado de ver hoje, mas minha cópia estava uma droga (talvez a Polícia Federal tenha razão, às vezes...). Minha locadora habitual tem esse filme. Quando eu passar lá de novo eu tiro pra contar pra vocês.

Dois perdidos numa noite suja (2003)
Drama, 100 min.
Direção: José Joffily
Roteiro: Paulo Haim, baseado na peça teatral de Plínio Marcos
Atores: Roberto Bomtempo, Déboa Falabella

Eu me lembro que meu primeiro Plínio Marcos foi tirado da Biblioteca Municipal de Sorocaba. Acredito que eles dever ter o Dois perdidos lá. E com sorte o texto do Guarnieri também. Depois eu conto pra vocês o que achei.

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sábado, 9 de janeiro de 2010

Amor, estranho amor

Eu sei que vocês estavam esperando comentários sobre os filmes do Zé do Caixão, mas estou demorando pra aprender a lidar com a tecnologia. Não posso explicar melhor porque morro de medo da Polícia Federal... entendem?

Pois então, enquanto espero, assisti uma coisa ainda mais assustadora, o filme da Xuxa pelada.
Olha, eu sabia, todo mundo sabe, que a Xuxa tinha feito essa porno-sem-chanchada. Mas o que eu não sabia é que era um filme pedofílico (existe essa palavra?). Dada a linha de trabalho da Xuxa, i.e. Rainha dos Baixinhos, eu realmente não esperava ver ela abusando do menininho da história. Choquei.






A história de Amor, estranho amor, pra quem ainda não conhece, é a seguinte. Estamos em 1937, o ano que o Getúlio fez que ia ter eleições e depois deu o golpe do Estado Novo, num bordel de luxo em S. Paulo, frequentado pelos poderosíssimos do país. A Vera Fischer é a amante privativa do candidato de S. Paulo, que decide dar uma festa pra agradar o candidato de Minas Gerais. E a Xuxa é o presente que eles resolvem dar para o candidato mineiro. (Detalhe importante: ela é uma... moça... experiente, mas tem o hímen complacente, e eles querem enganar o mineiro que ela é virgem e inocente. Hilário.) Eles vestem ela numa fantasia de ursinho de pelúcia, e ela fica dançando dentro daquela roupa absurda e fazendo strip-tease da fantasia de ursinho.

Perturbador.

Acontece que, na manhã do dia da festa, o filhinho de 12 anos da Vera Fischer chega de surpresa, mandado pela avó, que quer fazer chantagem pra Vera Fischer pra ela mandar mais dinheiro pra casa. Ela tem que esconder o menino no sótão até ela poder levar ele de volta pra casa da avó em Santa Catarina, depois da festa, e lá, no sótão, enquanto a Vera Fischer distrai os políticos no saguão, o menino fica à mercê de todas as... moças... do bordel. Principalmente de quem? Exatamente: a Rainha dos Baixinhos.

Mas isso não é nada perto do fim do filme, quando o Walter Hugo Khouri resolve fazer uma pietá desajeitada com a Vera Fischer e o menino. Desajeitada quis dizer sexual. Gente, desculpa minha caretice, mas eles são mãe e filho! Só eu choquei?

O filme tem muito peito, muito pelo, misturado com muita política (jeitinho brasileiro de fazer crítica política, jóia). A Xuxa é um zero à esquerda como atriz, ela faz uma cara de malvada péssima pra olhar a Vera Fischer ou o menino, e nem na hora do vamos ver ela não convence. Mas o mais estranho de tudo é que, no fim das contas, o filme não é de todo ruim. Recomendo para um desses domingos em que não tem nada na tevê.

Amor, estranho amor (1982)
Drama, 120 min.
Direção: Walter Hugo Khouri
Roteiro: Walter Hugo Khouri
Atores: Vera Fischer, Tarcísio Meira, Xuxa Meneghel, Íris Bruzzi, Walter Forster, Marcelo Ribeiro, Mauro Mendonça

ps: em inglês. sorry.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Preparar, apontar... ZÉ DO CAIXÃO

Boa noite, "você"!

Estou aproveitando a calada desta madrugada (insone) para avisar que a sessão Zé do Caixão está sendo preparada para esta semana ainda. Como o blog é novo, é complicado ficar muito tempo sem postagem. Então estou avisando aqui para que as crianças sejam retiradas da sala e outras precauções sejam tomadas, por exemplo, a se crer na entrevista que o Mojica deu para a Folha, melhor não brincar de pipoca nesta sessão. Os filmes estão cheios de vermes, ratos e baratas.




Enquanto esperamos pra que eu crie coragem de assistir a isso tudo (filme de terror pra mim tem que ter sangue e vilão superforte, nunca exigi muitos animais nojentos...), separei aqui pra vocês a entevista do Mojica para a Folha em 2006, quando o último filme foi finalizado, e a página oficial do Zé do Caixão. Assim vocês podem ir curtindo aquelas unhas sensuais dele enquanto não chegamos aos fatos.





Pra quem não sabe ainda, Zé do Caixão é o personagem dos filmes do Mojica Marins, que ele mesmo interpreta, por isso que às vezes me refiro a ele como Zé, às vezes como Mojica. Também é bacana lembrar que o Zé é um dos fenômenos do cinema brasileiro que fazem sucesso nas gringas. Lá fora ele é conhecido como Coffin Joe, e vende caixas e mais caixas e edições especiais dos filmes, que ficam engraçados quando traduzidos. "This night I'll posses you corpse". Lol.

Também é possível ver o Mojica, devidamente trajado, em seu talk show no Canal Brasil, O Estranho Mundo de Zé do Caixão (sextas à meia-noite). Eu vi uma entrevista dele com a Elke Maravilha lá. A maior viagem! Vocês deviam ver.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O pagador de promessas



Como prometido, comecei com o pagador de promessas do Anselmo Duarte. Primeiro choque, logo na reprodução do menu do DVD: o som.
Eu sei, todo mundo sabe que os filmes brasileiros tinham esse problema com o som até os anos 90. Mas eu tinha esquecido disso. Sem crise, a casa estava vazia, aumentamos bem o volume, e assistimos.

Quem faz a Rosa, a esposa do pagador de promessas (Zé do Burro), é a Glória Menezes. OK. Olhei, olhei e não consegui lembrar quem é a Glória Menezes nos dias atuais. O rosto não correspondia com ninguém que eu tenha visto nas novelas ultimamente. Tive que fazer uma busca google. (Agora deu pra perceber o quanto estou por fora, não?)

Glória Menezes




O filme foi premiado no Festival de Cannes de 1962, então não é nenhuma surpresa dizer que ele é realmente bom. A direção do Anselmo Duarte estava linda, o roteiro é coisa de outro mundo, os atores estavam ótimos, até a trilha sonora merece um elogio. Se eu posso fazer alguma crítica ao filme, é que eu achei que ele tinha muito daqueles elementos de "exótico" pra gringo ver e "sentir a cultura brasileira", como os capoeiras dançando, as baianas cantando pra vender queijo e as imagens do terreiro de candomblé, com as pessoas dançando com as máscaras do ritual. O candomblé, na verdade, tudo bem, tinha função na história, mas a dança dos capoeiras...

Minha parte preferida foi quando o monsenhor chega à igreja de Sta. Bárbara pra resolver com o padre sobre o que fazer com o moço lá fora com a cruz, e a escadaria da igreja está apinhada de gente e todo mundo abre passagem pra ele na mesma hora, ele vestido de preto e de chapéu preto, e a música entra quando ele começa a subir as escadas com cara de mau... meu! Só faltou tocar o tema do Darth Vader!

Curti. Recomendo.



O pagador de promessas (1962)
Drama, 95 min.
Direção: Anselmo Duarte
Roteiro: Anselmo Duarte, baseado na peça teatral de Dias Gomes
Atores:  Leonardo Villar , Norma Bengell, Glória Menezes , Dionísio Azevedo , Geraldo Del Rey 


Ah! Um último comentário. Leonardo Villar, que faz o Zé do Burro, um pão

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sábado, 2 de janeiro de 2010

Projeto de ano novo

Dezembro eu prestei vestibular, de novo. Pra Direito. Passei e tudo, mas uma das questões era sobre o Anselmo Duarte. Ela dizia algo como "este diretor morreu recentemente e seu trabalho mais conhecido é O pagador de promessas", e em seguida vinha uma lista com nomes de diretores brasileiros, e eu, meio perdidona, escolhi o Gláuber Rocha.
Sorte minha que eu sabia geografia...

O gabarito só saía no dia seguinte, e eu estava com a questão na cabeça, então eu resolvi tirar a dúvida com a minha avó. Além de antiga, ou seja, quando o filme entrou em cartaz ela estava lá pra ver, minha avó também é antenada e viciada em palavras cruzadas, o que quer dizer que ela é boa de respostas.
O que ela me disse:

VÓVS
Cê tá louca? O pagador de promessas, Gláuber Rocha?

EU
Pô, vó, é o única cineasta brasileiro que eu conheço!

VÓVS
Hahahaha. Você é mesmo parte da Geração Y.

EU
Y?

VÓVS
(Faz um sinal engraçado indicando o cofrinho (no traseiro, vocês sabem...). Y.)


Profundamente envergonhada fiz a única coisa que podia fazer, decidi procurar e conhecer o cinema brasileiro. Como estávamos perto do fim do ano (isso foi pouco antes do natal), resolvi fazer disso meu projetinho 2010.


Ponto de partida

A situação do meu conhecimento de cinema brasileiro neste momento é bastante triste. Eu não sei mais do que sabia no dia que chutei que o Gláuber tinha dirigido O pagador de promessas. A única coisa que eu sei mais que aquele dia é que foi o Anselmo Duarte e que ele morreu não faz dois meses. E não vou mais esquecer...

O Gláuber Rocha, na verdade, eu ainda não assisti. Sei bem quem é por já ouvir falar bastante. Teve também aquela vez que um amigo de um dos meus colegas de república (isso foi na primeira faculdade, Letras) chegou em casa com uma fita (VHS!) com um programa de tevê antigo que o Gláuber apresentava. Eu lembro dele gritando "Eu sou o cineasta mais importante do Brasil! No Brasil se a gente não assume a importância cultural que tem, ninguém entrega ela pra gente!" &c. &c. ou alguma coisa do gênero.

Além do Gláuber, eu também já ouvi falar do Mojica Marins (a.k.a. Zé do Caixão). Tenho alguns amigos que adoram o cara e também vi ele na tevê. Pra falar toda a verdade, eu cheguei a ver um filme dele. Mas não me lembro. Era horrível, tinha uma empregada que fazia macumba e coisas assim. Mas não vi, por exemplo, À meia-noite levarei sua alma nem o filme novo em que ele está usando o modelito que o Herchcovitch desenhou pra ele... São os que precisam ser vistos.
Certo?

Bom, a questão portanto não é só sobre sentar no sofá com a pipoca na mão (manteiga, please), mas preciso descobrir quais filmes ver e ainda tenho que encontrar eles. Não vai ser fácil, já que minha cidadezinha (650 mil habitantes) não prima pelas opções em cultura e entretenimento.

Enfim, conforme as listas de filmes forem ficando prontas, e eu for encontrando blogs, páginas ou livros bacanas sobre cinema brazuca, e assistindo os referidos, vou postando aqui pra vocês.

Feliz ano novo e até o primeiro filme (que vai definitivamente ser O pagador de promessas).