domingo, 31 de janeiro de 2010

O ano em que meus pais saíram de férias



Eu já tinha meio um pé atrás, porque a ditadura militar, para a arte brasileira, é meio como a Segunda Guerra para o cinema americano. Ninguém aguenta mais tanta apelação, falseamento histórico, cenas violentas de mau gosto e monotonia temática. Mas eu pensei em Machuca e achei que ia ser uma boa idéia, ver a ditadura pelos olhos de um personagem criança. Me arrependi logo nos letreiros iniciais do filme quando vi a informação "co-produção Globo Filmes". Mas o filme foi alugado, estávamos aproveitando o domingo à noite e vi o filme todo. Mais uns pouquinhos minutos e apareceu a segunda ligação com os filmes americanos de Segunda Guerra: judeus. Por algum motivo, no prédio do menino todo mundo é judeu. Fica no Bom Retiro, em São Paulo, o prédio.

Se tivesse algum motivo especial para os personagens, paulistanos, serem judeus, não seria um problema. Mas as únicas justificativas possíveis estão fora da história. Talvez a história seja real, e o menino era mesmo filho de judeu não-praticante. Talvez o roteirista fosse judeu. Talvez o Bom Retiro tivesse sido um reduto judeu nos anos 70. Quem sabe?

Pontas soltas em toda parte. O Schlomo fica horrorizado de ver que o menino não é circuncisado. E só. Nada desenvolve desse fato. O menino é ligado, pela comunidade, à história do bebê Moisés, colocado numa cesta e solto no rio Nilo para escapar dos egípicios. Porquê? O máximo que rende dessa história é uma piada não contada sobre o Schlomo ser a filha do faraó, na comparação. Ha-ha.

Vejam bem, não é que o filme seja ruim. Mas eu me sinto como se tivesse desperdiçado o tempo de ver um filme. Eu me diverti muito mais com o filme da Xuxa, apesar de todos os seus pesares. A gente fica achando que o filme vai falar sobre a ditadura, que o menino vai aprender sobre política, sobre violência, sobre diferenças... sobre suas origens judaicas, que fosse. Nada. É um menino maluquinho com uma mãe que volta pra casa espancada. Apelação a um momento sério da história para vender um filme sobre a Copa de 70. A grande revelação do menino é que ele quer mesmo é ser goleiro. Não percam seu tempo. Vale mais a pena passar seu domingo à noite assistindo a reprise do programa do Jô Soares na tevê a cabo.


O ano em que meus pais saíram de férias (2006)
Drama, 110 min.
Direção: Cao Hamburguer
Roteiro: Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger, baseado em história original de Cláudio Galperin e Cao Hamburger
Atores: Michel Joelsas, Germano Haiut, Daniela Piepszyk, Caio Blat, Paulo Autran

E se a idéia for dar filme pras crianças, apostem no outro Cao Hamburguer, Castelo rá-tim-bum.


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2 comentários:

  1. água com açucar!!

    Paizinho

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  2. Pô, Teresa, tiveram filmes sobre a ditadura de qualidade superior, como "Pra Frente Brasil" e "Batismo de Sangue", mas realmente os cinestas em geral nunca souberam explorar bem o tema com alguma fidelidade histórica e com consistência em seus roteiros... parece uma fórmula de equação que nunca fecha.

    O filme em questão é dispensável, ou seja, nem o aluguel da locadora vale o tempo perdido, porque mais uma vez se perderam em um roteiro cujo início poderia dar em alguma coisa. Foi visivelmente inspirado em parte do drama pessoal do Marcelo Rubens Paiva e mostra que boas idéias se perdem facilmente no cinema brasileiro.

    Eu considero esse filme como tentativa de blockbuster na hollywoodização do cinema brasileiro, a partir de "Cidade de Deus".

    Por fim, o assunto "favela" e "comunidade" (juntamente com a comédia besteirol) para os filmes brasileiros, tá entrando no rol dos filmes de ditadura e de Segunda Guerra (para os americanos), o que desperta um grande cuidado ao assistir produções do gênero também.

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