segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O padre e a moça


Semana cheia, por isso postagem tão demorada. Para coroar uma semana dessa, resolvi assistir finalmente um dos filmes que eu estava mais curiosa para ver, O padre e a moça. Demorei tanto por que não achava companhia. Meu namorado geralmente escapa estrategicamente pela esquerda quando proponho assistir a um filme. Pela esquerda mesmo, da última vez em que propus um filme brazuca, ele preferiu ver Tarkovsky.
Depois desta exposição pública, também, aposto que ele não vai mais tentar escapar das minha sessões pipoca-not-popcorn.

O padre e a moça, de 1965, é uma criação de Joaquim Pedro de Andrade - que eu suspeitava ser o grande artista do Cinema Novo um pouco por intuição, um pouco por já ter ouvido falar e ter visto uns pedacinhos do Mestre de Apipucos na tevê a cabo - baseada num poema de Carlos Drummond de Andrade de 1962. O poema é longuíssimo, por isso, ao invés de copiar ele aqui, ofereço o link. Ainda não li, assim como não li o comentário do próprio Drummond ao filme nem os ensaios publicados numa revista de cinema (o número 42 é dedicado ao filme - site com frames, cliquem em "artigos", se interessados, e escolham), todos encontrados enquanto procurava para vocês o poema, e todos arquivados no site da Filmes do Serro, a produtora de O padre e a moça.








Não li porque ainda não quero contaminar minha própria leitura do filme. Um filme é um filme e deve ser visto como tal. Assim como às vezes a gente quer ler o livro antes de ver o filme (como eu estou esperando para fazer com Um certo capitão Rodrigo (adoro Érico Veríssimo), nas próximas férias), às vezes devemos ver o filme.

O filme começa e eu estranho: ué, mas parece tão simples! Bonitinho, bem-feito, a câmera comportada, o enredo verossímel, nada como os pedaços que eu já vi do Glauber Rocha. Eu me sento então, e vejo, e vou aos poucos percebendo algumas coisas. Como a trilha sonora, feita de muito pouca música e de sons de grilo, pássaros que eu não conheço o nome, tic-tacs de relógio... Conforme o filme se desenrola eu vou vendo. O tempo cronológico é quase irrelevante. Não sei quanto tempo leva entre a chegada do padre novo e o rapto da moça, por exemplo. As cenas se seguem pela seqüencia lógica da história.

Outra coisa é que o filme é todo estruturado de forma circular. Por exemplo, há uma cena em que a moça serve um copo de cachaça para o farmacêutico, e a cena corta para um flashback (uma cena de sexo - ui! - muito bem comportada), e depois ela volta exatamente para a mesma imagem do farmacêutico tomando pinga com o chapéu pendurado do lado. O mesmo acontece na cena de amor entre o padre e a moça. E, finalmente, o padre, depois de fugir com a moça algum tempo pela Serra do Espinhaço, volta para a cidadezinha.

Deveria dizer, volta para a Igreja. Entra atordoado na capela e dorme chorando no chão do altar. Pensei muito em mim mesma com o meu próprio drama de eterno retorno institucional. Eu me identifiquei e fiquei com dó do padre e com raiva de mim, quando o certo era ter se identificado, ficado com raiva do padre ("Porque ele não vai em frente com a coisa? Será que ele não vê que a moça gosta dele?") e ter "operado a catarse própria dessas emoções", como coloca Aristóteles.


O padre e a moça (1965)
Drama, 95 min.
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Roteiro: Joaquim Pedro de Andrade
Atores: Helena Ignêz, Paulo José, Fauzi Arap, Mário Lago, moradores de São Gonçalo do Rio das Pedras

DOWNLOAD RMVB
O padre e a moça

Um comentário:

  1. Não concordo Gatinha, eu gosto do cinema brasileiro!! Lembra porque Tarkovsky? O aparelho de DVD não tocava o formato..agora vc vai ter que assistir todos os filmes comigo, só não prometo assistir todos do Zé do caixão...

    bjs Tié.

    Paizinho

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